... abre teu coração aos ventos e deixa
que te levem aos confins de mim,
onde brincam os meus sonhos
mais singelos de criança...
Dou-te, sem tardança, esse crepúsculo
que já finda e é o último.
Guarda-o em teu peito
para que o devolvas intacto,
quando o pano baixar sobre
o derradeiro ato deste humano drama.
Quem sabe assim aplacarás o coração
dos deuses que de nós - distantes -
se esqueceram.
E eles, num bocejo, talvez por um instante
se recordem de suas criaturas
e, num lampejo de piedade,
nos lancem das alturas um olhar
que nos acalente e justifique.
(Eduardo Alves da Costa)
LIVROS RELEVANTES
- A. Soljenish: Pavilhão de Cancerosos
- Baltasar Gracián: Arte da Prudência
- Charles Baudelaire: Flores do Mal
- Emile Zola: Germinal
- Erich Fromm: Medo à Liberdade
- Fernando Pessoa: O Livro do Desassossego
- Fiódor Dostoiévski: O Eterno Marido
- Franz Kafka: O Processo
- Friedrich Nietzsche: Assim Falou Zaratustra
- Friedrich Nietzsche: Humano, demasiado humano
- Fritjof Capra: O Ponto de Mutação
- Goethe: Fausto
- Goethe: Máximas e Reflexões
- Jean Baudrillard: Cool Memories III
- John Milton: Paraíso Perdido
- Júlio Cortázar: O Jogo da Amarelinha
- Luís Vaz de Camões: Sonetos
- Mario Quintana: Poesia Completa
- Michele Perrot: As Mulheres e os Silêncios da História
- Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha
- Philip Roth: O Anjo Agonizante
- Platão: O Banquete
- Robert Greene: As 48 Leis do Poder
- Salman Rushdie: O Chão que ela pisa
- Schopenhauer: O Mundo como Vontade e Representação
- Stendhal: Do Amor
- Sun Tsu: A Arte da Guerra
- William Faulkner: Luz em Agosto
- William Shakespeare: Hamlet
sábado, 30 de junho de 2007
sexta-feira, 29 de junho de 2007
NIETZSCHE
As sensações sexuais têm isto em comum
com as sensações de piedade:
Graças a elas um ser humano
Faz o bem a outro, sentindo prazer,
- Não se encontram assim tão amiúde
Na natureza, disposições tão benevolentes.
(NIETZSCHE)
com as sensações de piedade:
Graças a elas um ser humano
Faz o bem a outro, sentindo prazer,
- Não se encontram assim tão amiúde
Na natureza, disposições tão benevolentes.
(NIETZSCHE)
RICARDO REIS
Somos estrangeiros
Onde quer que estejamos.
Somos estrangeiros
Onde quer que morremos. Tudo é alheio.
Façamos a nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais do que não ser
Dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
(RICARDO REIS)
Onde quer que estejamos.
Somos estrangeiros
Onde quer que morremos. Tudo é alheio.
Façamos a nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais do que não ser
Dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
(RICARDO REIS)
MARIO QUINTANA
... essa misteriosa serenidade
que há por trás de toda
verdadeira arte, é que nos faz
curtir os clímax mais trágicos...
E quando conseguimos
transportá-la a nós,
é ela que nos faz aceitar
este mundo tal como é.
(QUINTANA)
que há por trás de toda
verdadeira arte, é que nos faz
curtir os clímax mais trágicos...
E quando conseguimos
transportá-la a nós,
é ela que nos faz aceitar
este mundo tal como é.
(QUINTANA)
JOHN KEATS
Meu espírito é frágil; ser mortal
Pesa-me como sono indesejado,
E cada abismo ou penhasco escarpado
Lá, de Deus, fala que terei final
Como águia enfermar
A contemplar o céu.
(JOHN KEATS)
Pesa-me como sono indesejado,
E cada abismo ou penhasco escarpado
Lá, de Deus, fala que terei final
Como águia enfermar
A contemplar o céu.
(JOHN KEATS)
OSCAR WILDE
Que te falta?
Peixe para a tua rede,
quando o vento é contrário?
Uma tempestade
para afundar os navios
e lançar à praia
as arcas de ricos tesouros?
Conheço uma flor,
que ninguém conhece senão eu.
Toca com a flor
os duros lábios da Rainha,
que ela te seguirá
pelo mundo inteiro.
(OSCAR WILDE)
Peixe para a tua rede,
quando o vento é contrário?
Uma tempestade
para afundar os navios
e lançar à praia
as arcas de ricos tesouros?
Conheço uma flor,
que ninguém conhece senão eu.
Toca com a flor
os duros lábios da Rainha,
que ela te seguirá
pelo mundo inteiro.
(OSCAR WILDE)
POR QUE ESCREVEMOS?
Por que escrevemos afinal? O desejo de comunicar-se
é uma necessidade do ser humano, desde sempre.
Precisamos das palavras até para pensar; nossos
pensamentos são palavras silenciosas e quando não
se pode nem falar nem calar: escrevemos! Talvez esse
seja o mais belo presente que a escrita deu aos seres
humanos, o de permitir vencer o espaço e o tempo
através dela. A linguagem falada se atualiza, é sempre
contemporânea, pertence ao momento. Já as coisas
escritas têm uma maior duração. É onde encontramos a
literatura, onde reciclamos todo o universo ideológico
da filosofia, é onde habitamos ainda o sublime mundo
dos poetas: " quem lê faz reviver uma fala eterna."
( YEDRA )
é uma necessidade do ser humano, desde sempre.
Precisamos das palavras até para pensar; nossos
pensamentos são palavras silenciosas e quando não
se pode nem falar nem calar: escrevemos! Talvez esse
seja o mais belo presente que a escrita deu aos seres
humanos, o de permitir vencer o espaço e o tempo
através dela. A linguagem falada se atualiza, é sempre
contemporânea, pertence ao momento. Já as coisas
escritas têm uma maior duração. É onde encontramos a
literatura, onde reciclamos todo o universo ideológico
da filosofia, é onde habitamos ainda o sublime mundo
dos poetas: " quem lê faz reviver uma fala eterna."
( YEDRA )
OTAVIO PAZ
A vida é um contínuo risco, viver é se expor.
A abstinência do ermitão se resolve no delírio
solitário; a fuga dos amantes, em morte cruel.
Outras paixões podem nos seduzir e arrebatar.
Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber
e a uma causa; outras inferiores, como o amor ao
dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos
desaparece o risco inerente à vida: o místico pode
descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber
não nos defende contra a decepção do conhecimento,
o poder não salva da traição. A glória é um emblema
equivocado e o esquecimento é mais forte do que
todas as reputações. E as desgraças do amor são as
desgraças da vida. Mas apesar de todos os males e
desgraças, sempre buscamos querer e ser queridos.
Porque o amor é o mais próximo, nesta terra, à
beatitude dos bem-aventurados.
(OTAVIO PAZ)
A abstinência do ermitão se resolve no delírio
solitário; a fuga dos amantes, em morte cruel.
Outras paixões podem nos seduzir e arrebatar.
Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber
e a uma causa; outras inferiores, como o amor ao
dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos
desaparece o risco inerente à vida: o místico pode
descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber
não nos defende contra a decepção do conhecimento,
o poder não salva da traição. A glória é um emblema
equivocado e o esquecimento é mais forte do que
todas as reputações. E as desgraças do amor são as
desgraças da vida. Mas apesar de todos os males e
desgraças, sempre buscamos querer e ser queridos.
Porque o amor é o mais próximo, nesta terra, à
beatitude dos bem-aventurados.
(OTAVIO PAZ)
WALT WHITMAN
O homem também não é menor
Nem maior que a alma,
Tem sua medida certa.
É todo qualidades, é ação e poder,
Traz em si o fluxo do universo
conhecido, tanto deseja
- pleno de apetite - quanto desdenha,
Tem as mais loucas paixões
E os êxtases mais profundos,
Mesmo a tristeza mais funda nele
Se transmuda em orgulho;
Nele o conhecimento se transfigura
E o faz feliz,
A tudo ele confere consigo mesmo,
Entretanto, qualquer que seja
O norte, o mar, a vela,
Somente aqui ele faz sondagem.
(WALT WHITMAN)
Nem maior que a alma,
Tem sua medida certa.
É todo qualidades, é ação e poder,
Traz em si o fluxo do universo
conhecido, tanto deseja
- pleno de apetite - quanto desdenha,
Tem as mais loucas paixões
E os êxtases mais profundos,
Mesmo a tristeza mais funda nele
Se transmuda em orgulho;
Nele o conhecimento se transfigura
E o faz feliz,
A tudo ele confere consigo mesmo,
Entretanto, qualquer que seja
O norte, o mar, a vela,
Somente aqui ele faz sondagem.
(WALT WHITMAN)
KAHLIL GIBRAN
Entre as colinas quando
vos sentardes à sombra fresca
dos álamos brancos, partilhando
da paz e da serenidade dos campos
e dos prados distantes, então
que vosso coração diga em silêncio:
" Deus repousa na Razão."
E quando bramir a tempestade, e o vento
poderoso sacudir a floresta,
e o trovão e o relâmpago proclamarem
a majestade do céu,
então que vosso coração diga
com temor e respeito:
"Deus age na Paixão".
E já que sois um sopro
na esfera de Deus e uma folha
na floresta de Deus, também devereis
Descansar na razão e agir na Paixão!
(GIBRAN)
vos sentardes à sombra fresca
dos álamos brancos, partilhando
da paz e da serenidade dos campos
e dos prados distantes, então
que vosso coração diga em silêncio:
" Deus repousa na Razão."
E quando bramir a tempestade, e o vento
poderoso sacudir a floresta,
e o trovão e o relâmpago proclamarem
a majestade do céu,
então que vosso coração diga
com temor e respeito:
"Deus age na Paixão".
E já que sois um sopro
na esfera de Deus e uma folha
na floresta de Deus, também devereis
Descansar na razão e agir na Paixão!
(GIBRAN)
FABRÍCIO CARPINEJAR
Não deixo o ódio distrair as palavras.
É preciso tomar cuidado, elas podem
sentir ciúmes umas das outras.
Converso com todas as palavras,
inclusive com as que não aprendi.
Leio braile com os ouvidos.
Coloco minha mão sobre o dicionário.
Intuir o significado é uma forma
de entender o vocabulário.
Amo o som, convenço-me
do significado bem mais tarde.
(CARPINEJAR)
É preciso tomar cuidado, elas podem
sentir ciúmes umas das outras.
Converso com todas as palavras,
inclusive com as que não aprendi.
Leio braile com os ouvidos.
Coloco minha mão sobre o dicionário.
Intuir o significado é uma forma
de entender o vocabulário.
Amo o som, convenço-me
do significado bem mais tarde.
(CARPINEJAR)
PABLO NERUDA
Outros dias virão, será entendido
o silêncio de plantas e planetas
e quantas coisas puras passarão!
Terão cheiro de lua os violinos!
(NERUDA)
o silêncio de plantas e planetas
e quantas coisas puras passarão!
Terão cheiro de lua os violinos!
(NERUDA)
BALTASAR GRACIÁN
Parecer melhor que os outros é
sempre perigoso, mas o que é
perigosíssimo é parecer não ter
falhas ou fraquezas. A inveja cria
inimigos silenciosos. É sinal de
astúcia exibir ocasionalmente
alguns defeitos, para desviar a
inveja e parecer mais humano
e acessível. Só os deuses e os
mortos podem parecer perfeitos
impunemente.
(Baltasar Gracián)
sempre perigoso, mas o que é
perigosíssimo é parecer não ter
falhas ou fraquezas. A inveja cria
inimigos silenciosos. É sinal de
astúcia exibir ocasionalmente
alguns defeitos, para desviar a
inveja e parecer mais humano
e acessível. Só os deuses e os
mortos podem parecer perfeitos
impunemente.
(Baltasar Gracián)
ÁLVARO DE CAMPOS
(...) ó noite tranquila...
Tu que não existes, que és só a ausência de luz,
Tu, cuja vinda é tão suave que parece afastamento,
Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,
Tem ondas de carinho morto,
Frio de mares de sonho,
Brisas de paisagens supostas
Para a nossa angústia excessiva...
(ÁLVARO DE CAMPOS)
Tu que não existes, que és só a ausência de luz,
Tu, cuja vinda é tão suave que parece afastamento,
Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,
Tem ondas de carinho morto,
Frio de mares de sonho,
Brisas de paisagens supostas
Para a nossa angústia excessiva...
(ÁLVARO DE CAMPOS)
SHAKESPEARE
Se o que o teu olhar ama
é bonito...
Que meios tem o mundo
para o negar?
Como pode o olhar do Amor
ser justo?
Se entre vigília e pranto
ele se verga?
E nem espanto o olhar
errar de susto
Se sem céu claro,
nem o Sol enxerga.
(SHAKESPEARE)
é bonito...
Que meios tem o mundo
para o negar?
Como pode o olhar do Amor
ser justo?
Se entre vigília e pranto
ele se verga?
E nem espanto o olhar
errar de susto
Se sem céu claro,
nem o Sol enxerga.
(SHAKESPEARE)
PABLO NERUDA
No meio da terra afastarei
as esmeraldas para divisar-te
E tu talvez e eu talvez topázio!
Já divisão não haverá nos sinos.
Já não haverá senão todo o ar liberto,
e as maçãs transportadas pelo vento,
e ali onde respiram os cravos
fundaremos um traje que resista
de um beijo vitorioso a eternidade.
(PABLO NERUDA)
as esmeraldas para divisar-te
E tu talvez e eu talvez topázio!
Já divisão não haverá nos sinos.
Já não haverá senão todo o ar liberto,
e as maçãs transportadas pelo vento,
e ali onde respiram os cravos
fundaremos um traje que resista
de um beijo vitorioso a eternidade.
(PABLO NERUDA)
ROBERT FROST
Duas trilhas bifurcavam
em um bosque de outono
e eu, viajante solitário,
triste por não poder
andar por ambas,
longamente observei
até onde desapareciam
na folhagem...
Duas trilhas num bosque
bifurcavam e eu -
eu fui pela menos pisada
e isso fez toda a diferença.
(ROBERT FROST)
em um bosque de outono
e eu, viajante solitário,
triste por não poder
andar por ambas,
longamente observei
até onde desapareciam
na folhagem...
Duas trilhas num bosque
bifurcavam e eu -
eu fui pela menos pisada
e isso fez toda a diferença.
(ROBERT FROST)
JÚLIO CORTÁZAR
Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.
Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.
( Júlio Cortázar )
Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.
( Júlio Cortázar )
MARIO QUINTANA
Por favor não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise profunda
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeito amor.
(MARIO QUINTANA)
Não fique procurando cada ponto fraco meu
Se ninguém resiste a uma análise profunda
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei perfeito amor.
(MARIO QUINTANA)
ALBERTO CAEIRO
O mistério das coisas onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos
que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles,
que sei disso?
Sempre que olho as coisas
e penso no que os homens
pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco
numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas
é elas não terem sentido oculto nenhum.
(ALBERTO CAEIRO)
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos
que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles,
que sei disso?
Sempre que olho as coisas
e penso no que os homens
pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco
numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas
é elas não terem sentido oculto nenhum.
(ALBERTO CAEIRO)
SYLVIA PLATH
Seu olho claro é a coisa mais linda que existe.
Quero enchê-lo de cor e patinhos,
O zoológico do recém
Em cujos nomes meditas —
Anêmona de abril, flor de cacto,
Pequeno
Talo sem ruga,
Poça em que imagens
Teriam de ser grandiosas e clássicas
Não esse agitado
Retorcer de mãos, esse teto
Escuro sem estrela alguma.
(SYLVIA PLATH)
Quero enchê-lo de cor e patinhos,
O zoológico do recém
Em cujos nomes meditas —
Anêmona de abril, flor de cacto,
Pequeno
Talo sem ruga,
Poça em que imagens
Teriam de ser grandiosas e clássicas
Não esse agitado
Retorcer de mãos, esse teto
Escuro sem estrela alguma.
(SYLVIA PLATH)
ANNE SEXTON
Today is made of yesterday,
each time I steal
toward rites I do not know,
waiting for the lost
ingredient, as if salt
or money or even lust
would keep us calm and
prove us whole at last.
( ANNE SEXTON )
each time I steal
toward rites I do not know,
waiting for the lost
ingredient, as if salt
or money or even lust
would keep us calm and
prove us whole at last.
( ANNE SEXTON )
SHAKESPEARE
Quando em minha desgraça e sem fortuna sigo
dos homens desprezado, e minha sorte choro,
praguejo contra os céus insensíveis, deploro
meu destino, e em protesto inútil me maldigo.
E os ricos de esperança invejo, e, num momento,
anseio ter também prazeres, alegrias,
tudo o que, à alma nos traz algum contentamento
e de amizades enche o decorrer dos dias…
Mas se assim desolado estou, e penso em ti,
tal como a cotovia ao vir da madrugada,
canto à espera do sol, à luz que ainda não vi,
e me sinto feliz, e sou rico talvez,
pois tendo o teu amor em minha alma encantada,
nem troco o meu Destino e nem invejo os reis!
( SHAKESPEARE )
dos homens desprezado, e minha sorte choro,
praguejo contra os céus insensíveis, deploro
meu destino, e em protesto inútil me maldigo.
E os ricos de esperança invejo, e, num momento,
anseio ter também prazeres, alegrias,
tudo o que, à alma nos traz algum contentamento
e de amizades enche o decorrer dos dias…
Mas se assim desolado estou, e penso em ti,
tal como a cotovia ao vir da madrugada,
canto à espera do sol, à luz que ainda não vi,
e me sinto feliz, e sou rico talvez,
pois tendo o teu amor em minha alma encantada,
nem troco o meu Destino e nem invejo os reis!
( SHAKESPEARE )
ALBERTO CAEIRO
Estou escrevendo versos realmente
simpáticos -
Versos a dizer que não tenha
nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos versos...
Tantos versos...
E a verdade toda,
e a vida toda fora dele
E de mim!
( ABERTO CAEIRO )
simpáticos -
Versos a dizer que não tenha
nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos versos...
Tantos versos...
E a verdade toda,
e a vida toda fora dele
E de mim!
( ABERTO CAEIRO )
VITOR HUGO
Amigo, voltas de uma destas viagens vãs
Que nos fazem sisudos a encher-nos de cãs
De todos os oceanos contemplaste a onda pura
Que traçarias pelo mundo uma cintura
Só com o sulco dos teus remos
O sol de vinte céus amadurou-te a vida
Para onde quer que fosses com tua energia,
Pelo mundo a vogar.
Ral como o lavrador que recolhe e semeia
De ti deixaste no mar ou na areia,
Muita coisa ao passar.
Enquanto teu amigo, com menos ilusões,
Esperava a passagem das mesmas estações
De uma ave a mesma asa
E como a árvore verde, sua raiz fincava
Em uma porta enfolhada, os dias passava
Bem no limiar de sua casa.
( VITOR HUGO )
Que nos fazem sisudos a encher-nos de cãs
De todos os oceanos contemplaste a onda pura
Que traçarias pelo mundo uma cintura
Só com o sulco dos teus remos
O sol de vinte céus amadurou-te a vida
Para onde quer que fosses com tua energia,
Pelo mundo a vogar.
Ral como o lavrador que recolhe e semeia
De ti deixaste no mar ou na areia,
Muita coisa ao passar.
Enquanto teu amigo, com menos ilusões,
Esperava a passagem das mesmas estações
De uma ave a mesma asa
E como a árvore verde, sua raiz fincava
Em uma porta enfolhada, os dias passava
Bem no limiar de sua casa.
( VITOR HUGO )
SHAKESPEARE
... Eis a sublime estupidez do mundo; quando nossa sorte
está abalada - muitas vezes pelos excessos de nossos
próprios atos - culpamos o sol, a lua e as estrelas; como
se fôssemos canalhas por necessidade, idiotas por
influência celeste; ladrões e traidores por comando
dos astros; bêbados, mentirosos e adúlteros por
determinação dos planetas; como se toda a perversidade
que há em nós fosse pura inspiração divina. É a admirável
desculpa do homem devasso - responsabilizar uma
estrela por sua devassidão...
( REI LEAR - SHAKESPEARE )
está abalada - muitas vezes pelos excessos de nossos
próprios atos - culpamos o sol, a lua e as estrelas; como
se fôssemos canalhas por necessidade, idiotas por
influência celeste; ladrões e traidores por comando
dos astros; bêbados, mentirosos e adúlteros por
determinação dos planetas; como se toda a perversidade
que há em nós fosse pura inspiração divina. É a admirável
desculpa do homem devasso - responsabilizar uma
estrela por sua devassidão...
( REI LEAR - SHAKESPEARE )
EUGÊNIO MONTALE
A noite que se insinua entre os refolhos escuros,
Compreendeu o segredo do tempo,
Do espaço que divide,
A verdade está talvez nesta fímbria
Que se adelgaça,
Ressurge naquele fundo de garrafa
Abandonado à margem da ressaca
O resto não passa mesmo
De um pretexto para sentir-se
Vivo e menos só...
( EUGÊNIO MONTALE )
Compreendeu o segredo do tempo,
Do espaço que divide,
A verdade está talvez nesta fímbria
Que se adelgaça,
Ressurge naquele fundo de garrafa
Abandonado à margem da ressaca
O resto não passa mesmo
De um pretexto para sentir-se
Vivo e menos só...
( EUGÊNIO MONTALE )
FERNANDO PESSOA
O segredo da Busca é que não se acha.
Eternos mundos infinitamente,
Uns dentro de outros, sem cessar decorrem
Inúteis; Sóis, Deuses, Deus dos Deuses
Neles intercalados e perdidos
Nem a nós encontramos no infinito.
Tudo é sempre diverso, e sempre adiante
De Deus e Deuses: essa, a luz incerta
Da suprema verdade.
(FERNANDO PESSOA)
Eternos mundos infinitamente,
Uns dentro de outros, sem cessar decorrem
Inúteis; Sóis, Deuses, Deus dos Deuses
Neles intercalados e perdidos
Nem a nós encontramos no infinito.
Tudo é sempre diverso, e sempre adiante
De Deus e Deuses: essa, a luz incerta
Da suprema verdade.
(FERNANDO PESSOA)
FLORBELA ESPANCA
Queria tanto saber porque sou eu!
Quem me enjeitou neste caminho escuro?
Queria tanto saber porque seguro
Nas minhas mãos o bem que não é meu!
Quem me dirá se, lá no alto, o céu
Também é para o mau, para o perjuro?
Para onde vai a alma, que morreu?
Queria encontrar Deus! Tanto o procuro!
A estrada de Damasco, o meu caminho,
O meu bordão de estrelas de ceguinho,
Água da fonte de que estou sedenta!
Quem sabe se este anseio de eternidade,
A tropeçar na sombra, é a verdade,
É já a mão de Deus que me acalenta?
( FLORBELA ESPANCA )
Quem me enjeitou neste caminho escuro?
Queria tanto saber porque seguro
Nas minhas mãos o bem que não é meu!
Quem me dirá se, lá no alto, o céu
Também é para o mau, para o perjuro?
Para onde vai a alma, que morreu?
Queria encontrar Deus! Tanto o procuro!
A estrada de Damasco, o meu caminho,
O meu bordão de estrelas de ceguinho,
Água da fonte de que estou sedenta!
Quem sabe se este anseio de eternidade,
A tropeçar na sombra, é a verdade,
É já a mão de Deus que me acalenta?
( FLORBELA ESPANCA )
EDUARDO ALVES DA COSTA
Percorreste boa parte do caminho
e agora, sentado à beira do teu destino,
já não tens força para concluir
a jornada.
Desperta o herói que foste
em tua infância e deixa
que ele guie teus passos.
No momento em que tua alma,
cansada, fraqueja, só ele
te poderá levar para além
dos limites de teu último sonho.
(EDUARDO ALVES DA COSTA)
e agora, sentado à beira do teu destino,
já não tens força para concluir
a jornada.
Desperta o herói que foste
em tua infância e deixa
que ele guie teus passos.
No momento em que tua alma,
cansada, fraqueja, só ele
te poderá levar para além
dos limites de teu último sonho.
(EDUARDO ALVES DA COSTA)
NIETZSCHE
... para aprender a apreciar uma música é preciso saber
percebê-la, delimitá-la, em sua própria expressão; depois,
é necessário esforço e boa vontade para suportá-la, a
despeito da sua estranheza... ter paciência e ternura pelo
que ela tem de singular; chega, enfim, o momento em que
nos habituamos a ela, em que sentimos que teríamos
saudade dela se ela nos faltasse...Mas não é só com a
música que isso nos acontece: é justamente dessa maneira
que aprendemos a amar todos os objetos que amamos.
Acabamos sendo compensados pela nossa boa vontade,
paciência, ternura pela estranheza, quando esta, pouco a pouco,
se desvela e vem oferecer-se a nós como uma nova beleza -
é essa a gratidão pela nossa hospitalidade. É só desta
forma que aprendemos a amar. Também se deve
aprender o amor!
(NIETZSCHE)
percebê-la, delimitá-la, em sua própria expressão; depois,
é necessário esforço e boa vontade para suportá-la, a
despeito da sua estranheza... ter paciência e ternura pelo
que ela tem de singular; chega, enfim, o momento em que
nos habituamos a ela, em que sentimos que teríamos
saudade dela se ela nos faltasse...Mas não é só com a
música que isso nos acontece: é justamente dessa maneira
que aprendemos a amar todos os objetos que amamos.
Acabamos sendo compensados pela nossa boa vontade,
paciência, ternura pela estranheza, quando esta, pouco a pouco,
se desvela e vem oferecer-se a nós como uma nova beleza -
é essa a gratidão pela nossa hospitalidade. É só desta
forma que aprendemos a amar. Também se deve
aprender o amor!
(NIETZSCHE)
AFONSO HENRIQUE NETO
empurre as mãos lentamente
através da pele do rio
até tocar o coração da beleza
(ruína do tempo impenetrável)
depois as retire lentamente
como se puxasse do infinito
a respiração
da criança nascendo
( AFONSO H. NETO)
através da pele do rio
até tocar o coração da beleza
(ruína do tempo impenetrável)
depois as retire lentamente
como se puxasse do infinito
a respiração
da criança nascendo
( AFONSO H. NETO)
DRUMMOND
... quanto movimento
em mim procura ordem.
O que perdi se multiplica
e uma pobreza feita de pérolas
salva o tempo, resgata a noite.
(DRUMMOND)
em mim procura ordem.
O que perdi se multiplica
e uma pobreza feita de pérolas
salva o tempo, resgata a noite.
(DRUMMOND)
ROBERTA WOLLEN
O sol ficou impresso em mim.
A mancha- reflexo da luz
se interpõe em tudo
que agora vejo.
E tudo vejo agora através do sol.
Tudo é dourado
e tudo me lembra aquele sol.
Tudo me lembra aquela manhã.
quando o sol entrou em mim
e ali ficou - para sempre.
(ROBERTA WOLLEN)
A mancha- reflexo da luz
se interpõe em tudo
que agora vejo.
E tudo vejo agora através do sol.
Tudo é dourado
e tudo me lembra aquele sol.
Tudo me lembra aquela manhã.
quando o sol entrou em mim
e ali ficou - para sempre.
(ROBERTA WOLLEN)
PABLO NERUDA
... é sem dúvida estrelado
tudo o que te devo,
o que te devo é como
o poço de uma zona silvestre
onde guardou o tempo
relâmpagos errantes.
(NERUDA)
tudo o que te devo,
o que te devo é como
o poço de uma zona silvestre
onde guardou o tempo
relâmpagos errantes.
(NERUDA)
ALEXANDRE POPE
Tudo que é natureza,
é arte que desconheces;
Tudo que é acaso é direcionamento
que não podes ver;
Tudo que é discordância
é harmonia não compreendida;
Tudo que é mal parcial
é bem universal.
(ALEXANDRE POPE)
é arte que desconheces;
Tudo que é acaso é direcionamento
que não podes ver;
Tudo que é discordância
é harmonia não compreendida;
Tudo que é mal parcial
é bem universal.
(ALEXANDRE POPE)
CECÍLIA MEIRELES
Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
Não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.
(CECILIA MEIRELES)
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
Não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.
(CECILIA MEIRELES)
PAUL VERLAINE
A lua branca brilha no bosque
De ramo em ramo.
Reflete o lago, como um espelho,
O perfil vago do ermo salgueiro
Que o vento chora...
Sonhemos, é hora...
Como que desce uma imprecisa
Calma infinita do firmamento
Que a lua frisa.
É a hora indecisa....
(PAUL VERLAINE)
De ramo em ramo.
Reflete o lago, como um espelho,
O perfil vago do ermo salgueiro
Que o vento chora...
Sonhemos, é hora...
Como que desce uma imprecisa
Calma infinita do firmamento
Que a lua frisa.
É a hora indecisa....
(PAUL VERLAINE)
MANUEL BANDEIRA
O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas (...)
(MANUEL BANDEIRA)
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas (...)
(MANUEL BANDEIRA)
RAINER MARIA RILKE
Como um dia a energia alada do prazer
levou-te sobre os escuros abismos da infância,
ela agora constrói, para além de tua vida,
o grande arco de pontes não imaginadas.
O milagre acontece se somos bem-sucedidos
na passagem pelo perigo mais árduo;
Mas só na conquista luminosa e pura
podemos perceber o milagre.
Temos o poder e a capacidade
de compreender o indescritível;
o padrão se confunde, torna-se sutil,
e devemos reduzir o ritmo para não perdê-lo.
Toma teus poderes e desdobra-os
até cobrirem o abismo entre
duas contradições... Pois o Deus
quer, em ti, conhecer-se a si mesmo.
(Rainer Maria Rilke)
levou-te sobre os escuros abismos da infância,
ela agora constrói, para além de tua vida,
o grande arco de pontes não imaginadas.
O milagre acontece se somos bem-sucedidos
na passagem pelo perigo mais árduo;
Mas só na conquista luminosa e pura
podemos perceber o milagre.
Temos o poder e a capacidade
de compreender o indescritível;
o padrão se confunde, torna-se sutil,
e devemos reduzir o ritmo para não perdê-lo.
Toma teus poderes e desdobra-os
até cobrirem o abismo entre
duas contradições... Pois o Deus
quer, em ti, conhecer-se a si mesmo.
(Rainer Maria Rilke)
MIGUEL TORGA
Não sabias:
imagina...Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe Na poça que a inocência abre na areia.
Sonha!Inventa um alfabeto De ilusões...
Um a-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...
Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,Aias da fantasia...
( MIGUEL TORGA )
imagina...Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe Na poça que a inocência abre na areia.
Sonha!Inventa um alfabeto De ilusões...
Um a-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...
Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,Aias da fantasia...
( MIGUEL TORGA )
OSCAR WILDE
Não que eu ame teus filhos cujo olhar obtuso
Somente vê a própria e repugnante dor,
Cuja mente não sabe, ou quer saber, de nada
É que, com seu rugir, tuas Democracias,
Teus reinos de Terror e grandes Anarquias
Refletem meus afãs extremos como o mar,
Dando-me Liberdade! -à cólera uma irmã.
Minha alma circunspeta gosta de teus gritos
Confusos só por causa disso: do contrário,
Reis com sangrento açoite ou seus canhões traiçoeiros
Roubavam às nações seus sagrados direitos,
Deixando-me impassível e ainda, ainda assim,
Esses Cristos que morrem sobre as barricadas,
Deus sabe que os apóio ao menos parcialmente.
( Oscar Wilde )
Somente vê a própria e repugnante dor,
Cuja mente não sabe, ou quer saber, de nada
É que, com seu rugir, tuas Democracias,
Teus reinos de Terror e grandes Anarquias
Refletem meus afãs extremos como o mar,
Dando-me Liberdade! -à cólera uma irmã.
Minha alma circunspeta gosta de teus gritos
Confusos só por causa disso: do contrário,
Reis com sangrento açoite ou seus canhões traiçoeiros
Roubavam às nações seus sagrados direitos,
Deixando-me impassível e ainda, ainda assim,
Esses Cristos que morrem sobre as barricadas,
Deus sabe que os apóio ao menos parcialmente.
( Oscar Wilde )
VITOR HUGO
Como te chamarei , hora turva em que estamos?
As frontes são banhadas de suores e emoções.
Nas alturas dos céus e no peito dos homens,
As tênebras por tudo misturam-se aos clarões,
Desesperos, paixões, esperanças e crenças,
Nada fulgura ao sol, nada existe na treva;
E o mundo sobre o qual vagam as aparências,
Cobre-se de uma sombra em que uma luz se eleva.
O rumor desta somnra abafa o pensamento...
(VITOR HUGO)
As frontes são banhadas de suores e emoções.
Nas alturas dos céus e no peito dos homens,
As tênebras por tudo misturam-se aos clarões,
Desesperos, paixões, esperanças e crenças,
Nada fulgura ao sol, nada existe na treva;
E o mundo sobre o qual vagam as aparências,
Cobre-se de uma sombra em que uma luz se eleva.
O rumor desta somnra abafa o pensamento...
(VITOR HUGO)
LYA LUFT
Deixa-me amar-te com ternura,
Tanto que nossas solidões se unam,
E cada um falando em sua margem
Possa escutar o próprio canto.
Deixa-me amar-te com loucura,
Ambos cavalgando mares impossíveis
Em frágeis barcos e insuficientes velas,
Pois disso se fará a nossa voz.
Ajuda-me a amar-te sem receio:
A solidão é um campo muito vasto
Que não se deve atravessar a sós.
(LYA LUFT)
Tanto que nossas solidões se unam,
E cada um falando em sua margem
Possa escutar o próprio canto.
Deixa-me amar-te com loucura,
Ambos cavalgando mares impossíveis
Em frágeis barcos e insuficientes velas,
Pois disso se fará a nossa voz.
Ajuda-me a amar-te sem receio:
A solidão é um campo muito vasto
Que não se deve atravessar a sós.
(LYA LUFT)
quinta-feira, 28 de junho de 2007
CHICO BUARQUE
Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade distante do mar.
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade.
Naquela cidade que não tem luar.
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido, todo mundo conta
Que uma andava tonta grávida de lua
E outra andava nua, ávida de mar.
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua correndo pro mar.
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito, engolindo água
Boiando com as algas, arrastando folhas
Carregando flores e a se desmanchar.
E foram virando peixes, virando conchas,
Virando seixos, virando areia
Prateada areia com lua cheia
E à beira-mar...
(Chico Buarque de Holanda)
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade distante do mar.
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade.
Naquela cidade que não tem luar.
Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido, todo mundo conta
Que uma andava tonta grávida de lua
E outra andava nua, ávida de mar.
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua correndo pro mar.
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito, engolindo água
Boiando com as algas, arrastando folhas
Carregando flores e a se desmanchar.
E foram virando peixes, virando conchas,
Virando seixos, virando areia
Prateada areia com lua cheia
E à beira-mar...
(Chico Buarque de Holanda)
MANOEL DE BARROS
Nasci para administrar o à-toa,
o em vão, o inútil.
Pertenço de fazer imagens
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas
com árvores, de pessoas com rãs,
de pessoas com pedras, etc, etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade para clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
E quando esteja apropriado para pedra,
Terei também sabedoria mineral.
(MANOEL DE BARROS)
o em vão, o inútil.
Pertenço de fazer imagens
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas
com árvores, de pessoas com rãs,
de pessoas com pedras, etc, etc.
Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade para clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
E quando esteja apropriado para pedra,
Terei também sabedoria mineral.
(MANOEL DE BARROS)
ROBERT FROST
Quis, de fato, que o pássaro voasse
E próximo ao meu lar não mais cantasse.
Cheguei à porta para afugentá-lo
Por sentir-me incapaz de suportá-lo.
Penso que a inteira culpa fosse minha,
E não do pássaro ou da voz que tinha.
O erro estava, decerto, na aflição
De querer silenciar uma canção.
(ROBERT FROST)
E próximo ao meu lar não mais cantasse.
Cheguei à porta para afugentá-lo
Por sentir-me incapaz de suportá-lo.
Penso que a inteira culpa fosse minha,
E não do pássaro ou da voz que tinha.
O erro estava, decerto, na aflição
De querer silenciar uma canção.
(ROBERT FROST)
ADÉLIA PRADO
Os diamantes são indestrutíves?
Mais é meu amor.
O mar é imenso.
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado do que a onda
batendo no rochedo,
Mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais
o que ama.
(ADÉLIA PRADO)
Mais é meu amor.
O mar é imenso.
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado do que a onda
batendo no rochedo,
Mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais
o que ama.
(ADÉLIA PRADO)
MÁRIO BENEDETTI
Este arroio não volta,
não se detém nunca.
Mas enquanto segue
lentamente fabula.
(...) E se não volta
é porque sonha onde vai:
desaguar num rio
e com ele no mar.
(MÁRIO BENEDETTI)
não se detém nunca.
Mas enquanto segue
lentamente fabula.
(...) E se não volta
é porque sonha onde vai:
desaguar num rio
e com ele no mar.
(MÁRIO BENEDETTI)
WILLIAM BLAKE
Deixa que o vento do oeste
Adormeça sobre o lago
Fala em silêncio com os teus
Luminosos olhos
Banha de prata o crepúsculo
E de repente
Te retiras enquanto enfurece
O lobo
E o leão, o escuro bosque
espreita.
(BLAKE)
Adormeça sobre o lago
Fala em silêncio com os teus
Luminosos olhos
Banha de prata o crepúsculo
E de repente
Te retiras enquanto enfurece
O lobo
E o leão, o escuro bosque
espreita.
(BLAKE)
VINÍCIUS DE MORAES
A vida do poeta
tem um ritmo diferente.
E a sua alma é uma percela
do infinito distante.
Ele é o eterno errante
dos caminhos.
Que vai pisando a terra
e olhando o céu...
(VINÍCIUS DE MORAES)
tem um ritmo diferente.
E a sua alma é uma percela
do infinito distante.
Ele é o eterno errante
dos caminhos.
Que vai pisando a terra
e olhando o céu...
(VINÍCIUS DE MORAES)
CAMÕES
Quem pode ser no mundo tão quieto
ou quem terá tão livre o pensamento,
quem tão experimentado, ou tão discreto,
tão fora enfim de humano entendimento que,
ou com público efeito ou com secreto,
lhe não revolva e espante o sentimento,
deixando-lhe o juízo quase incerto,
ver e notar do mundo o desconcerto?
(CAMÕES)
ou quem terá tão livre o pensamento,
quem tão experimentado, ou tão discreto,
tão fora enfim de humano entendimento que,
ou com público efeito ou com secreto,
lhe não revolva e espante o sentimento,
deixando-lhe o juízo quase incerto,
ver e notar do mundo o desconcerto?
(CAMÕES)
SUGESTÃO
Sêde assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Flor que se cumpre, sem pergunta.
Onda que se esforça, por exercício desinteressado.
Também como esse ar da noite:
Sussurrante de silêncios, cheios de nascimentos
e pétalas. Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.
À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao boi que vai com inocência para a morte.
Sêde assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Não como o resto dos homens.
(CECÍLIA MEIRELES)
serena, isenta, fiel.
Flor que se cumpre, sem pergunta.
Onda que se esforça, por exercício desinteressado.
Também como esse ar da noite:
Sussurrante de silêncios, cheios de nascimentos
e pétalas. Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.
À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao boi que vai com inocência para a morte.
Sêde assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Não como o resto dos homens.
(CECÍLIA MEIRELES)
SINTOMAS DE AMOR
O amor é uma universal cefaléia,
Brilhante mácula que a visão enleia
Obscurecendo a razão.
Sintomas de amor verdadeiro
São a magreza, o ciúme,
Lânguidas alvoradas;
São presságios e pesadelos –
À escuta de um toque,
Aguardando um sinal:
Um roçar dos dedos dela
Num quarto às escuras,
Um olhar penetrante.
Tem coragem, amante!
Aguentarias tal aflição
A outras mãos que não as dela?
( ROBERT GRAVES )
Brilhante mácula que a visão enleia
Obscurecendo a razão.
Sintomas de amor verdadeiro
São a magreza, o ciúme,
Lânguidas alvoradas;
São presságios e pesadelos –
À escuta de um toque,
Aguardando um sinal:
Um roçar dos dedos dela
Num quarto às escuras,
Um olhar penetrante.
Tem coragem, amante!
Aguentarias tal aflição
A outras mãos que não as dela?
( ROBERT GRAVES )
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