WATLER CRANE

JEAN LEON GEROME

JEAN LEON GEROME

LIVROS RELEVANTES

  • A. Soljenish: Pavilhão de Cancerosos
  • Baltasar Gracián: Arte da Prudência
  • Charles Baudelaire: Flores do Mal
  • Emile Zola: Germinal
  • Erich Fromm: Medo à Liberdade
  • Fernando Pessoa: O Livro do Desassossego
  • Fiódor Dostoiévski: O Eterno Marido
  • Franz Kafka: O Processo
  • Friedrich Nietzsche: Assim Falou Zaratustra
  • Friedrich Nietzsche: Humano, demasiado humano
  • Fritjof Capra: O Ponto de Mutação
  • Goethe: Fausto
  • Goethe: Máximas e Reflexões
  • Jean Baudrillard: Cool Memories III
  • John Milton: Paraíso Perdido
  • Júlio Cortázar: O Jogo da Amarelinha
  • Luís Vaz de Camões: Sonetos
  • Mario Quintana: Poesia Completa
  • Michele Perrot: As Mulheres e os Silêncios da História
  • Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha
  • Philip Roth: O Anjo Agonizante
  • Platão: O Banquete
  • Robert Greene: As 48 Leis do Poder
  • Salman Rushdie: O Chão que ela pisa
  • Schopenhauer: O Mundo como Vontade e Representação
  • Stendhal: Do Amor
  • Sun Tsu: A Arte da Guerra
  • William Faulkner: Luz em Agosto
  • William Shakespeare: Hamlet

EDVARD MUNCH

JEAN PERRAULT

sábado, 30 de junho de 2007

EDUARDO ALVES DA COSTA

... abre teu coração aos ventos e deixa

que te levem aos confins de mim,

onde brincam os meus sonhos

mais singelos de criança...

Dou-te, sem tardança, esse crepúsculo

que já finda e é o último.

Guarda-o em teu peito

para que o devolvas intacto,

quando o pano baixar sobre

o derradeiro ato deste humano drama.

Quem sabe assim aplacarás o coração

dos deuses que de nós - distantes -

se esqueceram.

E eles, num bocejo, talvez por um instante

se recordem de suas criaturas

e, num lampejo de piedade,

nos lancem das alturas um olhar

que nos acalente e justifique.



(Eduardo Alves da Costa)

sexta-feira, 29 de junho de 2007

NIETZSCHE

As sensações sexuais têm isto em comum

com as sensações de piedade:

Graças a elas um ser humano

Faz o bem a outro, sentindo prazer,

- Não se encontram assim tão amiúde

Na natureza, disposições tão benevolentes.



(NIETZSCHE)

RICARDO REIS

Somos estrangeiros

Onde quer que estejamos.

Somos estrangeiros

Onde quer que morremos. Tudo é alheio.

Façamos a nós mesmos o retiro

Onde esconder-nos, tímidos do insulto

Do tumulto do mundo.

Que quer o amor mais do que não ser

Dos outros?

Como um segredo dito nos mistérios,

Seja sacro por nosso.



(RICARDO REIS)

MARIO QUINTANA

... essa misteriosa serenidade

que há por trás de toda

verdadeira arte, é que nos faz

curtir os clímax mais trágicos...

E quando conseguimos

transportá-la a nós,

é ela que nos faz aceitar

este mundo tal como é.



(QUINTANA)

JOHN KEATS

Meu espírito é frágil; ser mortal

Pesa-me como sono indesejado,

E cada abismo ou penhasco escarpado

Lá, de Deus, fala que terei final

Como águia enfermar

A contemplar o céu.



(JOHN KEATS)

OSCAR WILDE

Que te falta?

Peixe para a tua rede,

quando o vento é contrário?

Uma tempestade

para afundar os navios

e lançar à praia

as arcas de ricos tesouros?

Conheço uma flor,

que ninguém conhece senão eu.

Toca com a flor

os duros lábios da Rainha,

que ela te seguirá

pelo mundo inteiro.


(OSCAR WILDE)

POR QUE ESCREVEMOS?

Por que escrevemos afinal? O desejo de comunicar-se

é uma necessidade do ser humano, desde sempre.

Precisamos das palavras até para pensar; nossos

pensamentos são palavras silenciosas e quando não

se pode nem falar nem calar: escrevemos! Talvez esse

seja o mais belo presente que a escrita deu aos seres

humanos, o de permitir vencer o espaço e o tempo

através dela. A linguagem falada se atualiza, é sempre

contemporânea, pertence ao momento. Já as coisas

escritas têm uma maior duração. É onde encontramos a

literatura, onde reciclamos todo o universo ideológico

da filosofia, é onde habitamos ainda o sublime mundo

dos poetas: " quem lê faz reviver uma fala eterna."



( YEDRA )

OTAVIO PAZ

A vida é um contínuo risco, viver é se expor.

A abstinência do ermitão se resolve no delírio

solitário; a fuga dos amantes, em morte cruel.

Outras paixões podem nos seduzir e arrebatar.

Umas superiores, como o amor a Deus, ao saber

e a uma causa; outras inferiores, como o amor ao

dinheiro ou ao poder. Em nenhum desses casos

desaparece o risco inerente à vida: o místico pode

descobrir que corria atrás de uma quimera, o saber

não nos defende contra a decepção do conhecimento,

o poder não salva da traição. A glória é um emblema

equivocado e o esquecimento é mais forte do que

todas as reputações. E as desgraças do amor são as

desgraças da vida. Mas apesar de todos os males e

desgraças, sempre buscamos querer e ser queridos.

Porque o amor é o mais próximo, nesta terra, à

beatitude dos bem-aventurados.



(OTAVIO PAZ)

WALT WHITMAN

O homem também não é menor

Nem maior que a alma,

Tem sua medida certa.

É todo qualidades, é ação e poder,

Traz em si o fluxo do universo

conhecido, tanto deseja

- pleno de apetite - quanto desdenha,

Tem as mais loucas paixões

E os êxtases mais profundos,

Mesmo a tristeza mais funda nele

Se transmuda em orgulho;

Nele o conhecimento se transfigura

E o faz feliz,

A tudo ele confere consigo mesmo,

Entretanto, qualquer que seja

O norte, o mar, a vela,

Somente aqui ele faz sondagem.




(WALT WHITMAN)

KAHLIL GIBRAN

Entre as colinas quando

vos sentardes à sombra fresca

dos álamos brancos, partilhando

da paz e da serenidade dos campos

e dos prados distantes, então

que vosso coração diga em silêncio:

" Deus repousa na Razão."

E quando bramir a tempestade, e o vento

poderoso sacudir a floresta,

e o trovão e o relâmpago proclamarem

a majestade do céu,

então que vosso coração diga

com temor e respeito:

"Deus age na Paixão".

E já que sois um sopro

na esfera de Deus e uma folha

na floresta de Deus, também devereis

Descansar na razão e agir na Paixão!


(GIBRAN)

FABRÍCIO CARPINEJAR

Não deixo o ódio distrair as palavras.

É preciso tomar cuidado, elas podem

sentir ciúmes umas das outras.

Converso com todas as palavras,

inclusive com as que não aprendi.

Leio braile com os ouvidos.

Coloco minha mão sobre o dicionário.

Intuir o significado é uma forma

de entender o vocabulário.

Amo o som, convenço-me

do significado bem mais tarde.


(CARPINEJAR)

PABLO NERUDA

Outros dias virão, será entendido

o silêncio de plantas e planetas

e quantas coisas puras passarão!

Terão cheiro de lua os violinos!



(NERUDA)

BALTASAR GRACIÁN

Parecer melhor que os outros é

sempre perigoso, mas o que é

perigosíssimo é parecer não ter

falhas ou fraquezas. A inveja cria

inimigos silenciosos. É sinal de

astúcia exibir ocasionalmente

alguns defeitos, para desviar a

inveja e parecer mais humano

e acessível. Só os deuses e os

mortos podem parecer perfeitos

impunemente.



(Baltasar Gracián)

ÁLVARO DE CAMPOS

(...) ó noite tranquila...

Tu que não existes, que és só a ausência de luz,

Tu, cuja vinda é tão suave que parece afastamento,

Cujo fluxo e refluxo de treva, quando a lua bafeja,

Tem ondas de carinho morto,

Frio de mares de sonho,

Brisas de paisagens supostas

Para a nossa angústia excessiva...


(ÁLVARO DE CAMPOS)

SHAKESPEARE

Se o que o teu olhar ama

é bonito...

Que meios tem o mundo

para o negar?

Como pode o olhar do Amor

ser justo?

Se entre vigília e pranto

ele se verga?

E nem espanto o olhar

errar de susto

Se sem céu claro,

nem o Sol enxerga.



(SHAKESPEARE)

PABLO NERUDA

No meio da terra afastarei

as esmeraldas para divisar-te

E tu talvez e eu talvez topázio!

Já divisão não haverá nos sinos.

Já não haverá senão todo o ar liberto,

e as maçãs transportadas pelo vento,

e ali onde respiram os cravos

fundaremos um traje que resista

de um beijo vitorioso a eternidade.



(PABLO NERUDA)

ROBERT FROST

Duas trilhas bifurcavam

em um bosque de outono

e eu, viajante solitário,

triste por não poder

andar por ambas,

longamente observei

até onde desapareciam

na folhagem...

Duas trilhas num bosque

bifurcavam e eu -

eu fui pela menos pisada

e isso fez toda a diferença.



(ROBERT FROST)

JÚLIO CORTÁZAR

Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e desenha no seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.



Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.




( Júlio Cortázar )

MARIO QUINTANA

Por favor não me analise

Não fique procurando cada ponto fraco meu

Se ninguém resiste a uma análise profunda

Quanto mais eu

Ciumento, exigente, inseguro, carente

Todo cheio de marcas que a vida deixou

Vejo em cada grito de exigência

Um pedido de carência, um pedido de amor

Amor é síntese

É uma integração de dados

Não há que tirar nem pôr

Não me corte em fatias

Ninguém consegue abraçar um pedaço

Me envolva todo em seus braços

E eu serei perfeito amor.


(MARIO QUINTANA)

ALBERTO CAEIRO

O mistério das coisas onde está ele?

Onde está ele que não aparece

Pelo menos a mostrar-nos

que é mistério?

Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?

E eu, que não sou mais do que eles,

que sei disso?

Sempre que olho as coisas

e penso no que os homens

pensam delas,

Rio como um regato que soa fresco

numa pedra.

Porque o único sentido oculto das coisas

é elas não terem sentido oculto nenhum.


(ALBERTO CAEIRO)

SYLVIA PLATH

Seu olho claro é a coisa mais linda que existe.
Quero enchê-lo de cor e patinhos,
O zoológico do recém

Em cujos nomes meditas —
Anêmona de abril, flor de cacto,
Pequeno

Talo sem ruga,
Poça em que imagens
Teriam de ser grandiosas e clássicas

Não esse agitado
Retorcer de mãos, esse teto
Escuro sem estrela alguma.

(SYLVIA PLATH)

ANNE SEXTON

Today is made of yesterday,

each time I steal

toward rites I do not know,

waiting for the lost

ingredient, as if salt

or money or even lust

would keep us calm and

prove us whole at last.

( ANNE SEXTON )

SHAKESPEARE

Quando em minha desgraça e sem fortuna sigo
dos homens desprezado, e minha sorte choro,
praguejo contra os céus insensíveis, deploro
meu destino, e em protesto inútil me maldigo.

E os ricos de esperança invejo, e, num momento,
anseio ter também prazeres, alegrias,
tudo o que, à alma nos traz algum contentamento
e de amizades enche o decorrer dos dias…

Mas se assim desolado estou, e penso em ti,
tal como a cotovia ao vir da madrugada,
canto à espera do sol, à luz que ainda não vi,

e me sinto feliz, e sou rico talvez,
pois tendo o teu amor em minha alma encantada,
nem troco o meu Destino e nem invejo os reis!

( SHAKESPEARE )

ALBERTO CAEIRO

Estou escrevendo versos realmente

simpáticos -

Versos a dizer que não tenha

nada que dizer,

Versos a teimar em dizer isso,

Versos, versos, versos, versos versos...

Tantos versos...

E a verdade toda,

e a vida toda fora dele

E de mim!



( ABERTO CAEIRO )

VITOR HUGO

Amigo, voltas de uma destas viagens vãs

Que nos fazem sisudos a encher-nos de cãs

De todos os oceanos contemplaste a onda pura

Que traçarias pelo mundo uma cintura

Só com o sulco dos teus remos

O sol de vinte céus amadurou-te a vida

Para onde quer que fosses com tua energia,

Pelo mundo a vogar.

Ral como o lavrador que recolhe e semeia

De ti deixaste no mar ou na areia,

Muita coisa ao passar.

Enquanto teu amigo, com menos ilusões,

Esperava a passagem das mesmas estações

De uma ave a mesma asa

E como a árvore verde, sua raiz fincava

Em uma porta enfolhada, os dias passava

Bem no limiar de sua casa.



( VITOR HUGO )

SHAKESPEARE

... Eis a sublime estupidez do mundo; quando nossa sorte

está abalada - muitas vezes pelos excessos de nossos

próprios atos - culpamos o sol, a lua e as estrelas; como

se fôssemos canalhas por necessidade, idiotas por

influência celeste; ladrões e traidores por comando

dos astros; bêbados, mentirosos e adúlteros por

determinação dos planetas; como se toda a perversidade

que há em nós fosse pura inspiração divina. É a admirável

desculpa do homem devasso - responsabilizar uma

estrela por sua devassidão...


( REI LEAR - SHAKESPEARE )

EUGÊNIO MONTALE

A noite que se insinua entre os refolhos escuros,

Compreendeu o segredo do tempo,

Do espaço que divide,

A verdade está talvez nesta fímbria

Que se adelgaça,

Ressurge naquele fundo de garrafa

Abandonado à margem da ressaca

O resto não passa mesmo

De um pretexto para sentir-se

Vivo e menos só...



( EUGÊNIO MONTALE )

FERNANDO PESSOA

O segredo da Busca é que não se acha.

Eternos mundos infinitamente,

Uns dentro de outros, sem cessar decorrem

Inúteis; Sóis, Deuses, Deus dos Deuses

Neles intercalados e perdidos

Nem a nós encontramos no infinito.

Tudo é sempre diverso, e sempre adiante

De Deus e Deuses: essa, a luz incerta

Da suprema verdade.



(FERNANDO PESSOA)

FLORBELA ESPANCA

Queria tanto saber porque sou eu!

Quem me enjeitou neste caminho escuro?

Queria tanto saber porque seguro

Nas minhas mãos o bem que não é meu!

Quem me dirá se, lá no alto, o céu

Também é para o mau, para o perjuro?

Para onde vai a alma, que morreu?

Queria encontrar Deus! Tanto o procuro!

A estrada de Damasco, o meu caminho,

O meu bordão de estrelas de ceguinho,

Água da fonte de que estou sedenta!

Quem sabe se este anseio de eternidade,

A tropeçar na sombra, é a verdade,

É já a mão de Deus que me acalenta?




( FLORBELA ESPANCA )

EDUARDO ALVES DA COSTA

Percorreste boa parte do caminho

e agora, sentado à beira do teu destino,

já não tens força para concluir

a jornada.

Desperta o herói que foste

em tua infância e deixa

que ele guie teus passos.

No momento em que tua alma,

cansada, fraqueja, só ele

te poderá levar para além

dos limites de teu último sonho.




(EDUARDO ALVES DA COSTA)

NIETZSCHE

... para aprender a apreciar uma música é preciso saber

percebê-la, delimitá-la, em sua própria expressão; depois,

é necessário esforço e boa vontade para suportá-la, a

despeito da sua estranheza... ter paciência e ternura pelo

que ela tem de singular; chega, enfim, o momento em que

nos habituamos a ela, em que sentimos que teríamos

saudade dela se ela nos faltasse...Mas não é só com a

música que isso nos acontece: é justamente dessa maneira

que aprendemos a amar todos os objetos que amamos.

Acabamos sendo compensados pela nossa boa vontade,

paciência, ternura pela estranheza, quando esta, pouco a pouco,

se desvela e vem oferecer-se a nós como uma nova beleza -

é essa a gratidão pela nossa hospitalidade. É só desta

forma que aprendemos a amar. Também se deve

aprender o amor!


(NIETZSCHE)

AFONSO HENRIQUE NETO

empurre as mãos lentamente

através da pele do rio

até tocar o coração da beleza

(ruína do tempo impenetrável)

depois as retire lentamente

como se puxasse do infinito

a respiração

da criança nascendo



( AFONSO H. NETO)

DRUMMOND

... quanto movimento

em mim procura ordem.

O que perdi se multiplica

e uma pobreza feita de pérolas

salva o tempo, resgata a noite.


(DRUMMOND)

ROBERTA WOLLEN

O sol ficou impresso em mim.

A mancha- reflexo da luz

se interpõe em tudo

que agora vejo.

E tudo vejo agora através do sol.

Tudo é dourado

e tudo me lembra aquele sol.

Tudo me lembra aquela manhã.

quando o sol entrou em mim

e ali ficou - para sempre.


(ROBERTA WOLLEN)

PABLO NERUDA

... é sem dúvida estrelado

tudo o que te devo,

o que te devo é como

o poço de uma zona silvestre

onde guardou o tempo

relâmpagos errantes.


(NERUDA)

ALEXANDRE POPE

Tudo que é natureza,

é arte que desconheces;

Tudo que é acaso é direcionamento

que não podes ver;

Tudo que é discordância

é harmonia não compreendida;

Tudo que é mal parcial

é bem universal.


(ALEXANDRE POPE)

CECÍLIA MEIRELES

Parei as águas do meu sonho

para teu rosto se mirar.

Mas só a sombra dos meus olhos

ficou por cima, a procurar...

Os pássaros da madrugada

Não têm coragem de cantar,

vendo o meu sonho interminável

e a esperança do meu olhar.

Procurei-te em vão pela terra,

perto do céu, por sobre o mar.

Se não chegas nem pelo sonho,

por que insisto em te imaginar?

Quando vierem fechar meus olhos,

talvez não se deixem fechar.

Talvez pensem que o tempo volta,

e que vens, se o tempo voltar.


(CECILIA MEIRELES)

PAUL VERLAINE

A lua branca brilha no bosque

De ramo em ramo.

Reflete o lago, como um espelho,

O perfil vago do ermo salgueiro

Que o vento chora...

Sonhemos, é hora...

Como que desce uma imprecisa

Calma infinita do firmamento

Que a lua frisa.

É a hora indecisa....


(PAUL VERLAINE)

MANUEL BANDEIRA

O que eu adoro em ti

Não é sua beleza

A beleza é em nós que existe

A beleza é um conceito

E a beleza é triste

Não é triste em si

Mas pelo que há nela

De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti

Não é a tua inteligência

Mas é o espírito sutil

Tão ágil e tão luminoso

Ave solta no céu matinal da montanha

Nem é tua ciência

Do coração dos homens e das coisas (...)



(MANUEL BANDEIRA)

RAINER MARIA RILKE

Como um dia a energia alada do prazer
levou-te sobre os escuros abismos da infância,

ela agora constrói, para além de tua vida,

o grande arco de pontes não imaginadas.

O milagre acontece se somos bem-sucedidos

na passagem pelo perigo mais árduo;

Mas só na conquista luminosa e pura

podemos perceber o milagre.

Temos o poder e a capacidade

de compreender o indescritível;

o padrão se confunde, torna-se sutil,

e devemos reduzir o ritmo para não perdê-lo.

Toma teus poderes e desdobra-os

até cobrirem o abismo entre

duas contradições... Pois o Deus

quer, em ti, conhecer-se a si mesmo.



(Rainer Maria Rilke)

MIGUEL TORGA

Não sabias:


imagina...Deixa falar o mestre, e devaneia...



A velhice é que sabe, e apenas sabe



Que o mar não cabe Na poça que a inocência abre na areia.



Sonha!Inventa um alfabeto De ilusões...



Um a-bê-cê secreto



Que soletres à margem das lições...



Voa pela janela



De encontro a qualquer sol que te sorria!



Asas? Não são precisas:



Vais ao colo das brisas,Aias da fantasia...



( MIGUEL TORGA )

OSCAR WILDE

Não que eu ame teus filhos cujo olhar obtuso

Somente vê a própria e repugnante dor,

Cuja mente não sabe, ou quer saber, de nada

É que, com seu rugir, tuas Democracias,

Teus reinos de Terror e grandes Anarquias

Refletem meus afãs extremos como o mar,

Dando-me Liberdade! -à cólera uma irmã.

Minha alma circunspeta gosta de teus gritos

Confusos só por causa disso: do contrário,

Reis com sangrento açoite ou seus canhões traiçoeiros

Roubavam às nações seus sagrados direitos,

Deixando-me impassível e ainda, ainda assim,

Esses Cristos que morrem sobre as barricadas,

Deus sabe que os apóio ao menos parcialmente.



( Oscar Wilde )

VITOR HUGO

Como te chamarei , hora turva em que estamos?

As frontes são banhadas de suores e emoções.

Nas alturas dos céus e no peito dos homens,

As tênebras por tudo misturam-se aos clarões,

Desesperos, paixões, esperanças e crenças,

Nada fulgura ao sol, nada existe na treva;

E o mundo sobre o qual vagam as aparências,

Cobre-se de uma sombra em que uma luz se eleva.

O rumor desta somnra abafa o pensamento...



(VITOR HUGO)

LYA LUFT

Deixa-me amar-te com ternura,

Tanto que nossas solidões se unam,

E cada um falando em sua margem

Possa escutar o próprio canto.

Deixa-me amar-te com loucura,

Ambos cavalgando mares impossíveis

Em frágeis barcos e insuficientes velas,

Pois disso se fará a nossa voz.

Ajuda-me a amar-te sem receio:

A solidão é um campo muito vasto

Que não se deve atravessar a sós.



(LYA LUFT)

quinta-feira, 28 de junho de 2007

CHICO BUARQUE

Amaram o amor urgente

As bocas salgadas pela maresia

As costas lanhadas pela tempestade

Naquela cidade distante do mar.

Amaram o amor serenado

Das noturnas praias levantavam as saias

E se enluaravam de felicidade.

Naquela cidade que não tem luar.

Amavam o amor proibido

Pois hoje é sabido, todo mundo conta

Que uma andava tonta grávida de lua

E outra andava nua, ávida de mar.

E foram ficando marcadas

Ouvindo risadas, sentindo arrepios

Olhando pro rio tão cheio de lua

E que continua correndo pro mar.

E foram correnteza abaixo

Rolando no leito, engolindo água

Boiando com as algas, arrastando folhas

Carregando flores e a se desmanchar.

E foram virando peixes, virando conchas,

Virando seixos, virando areia

Prateada areia com lua cheia

E à beira-mar...



(Chico Buarque de Holanda)

MANOEL DE BARROS

Nasci para administrar o à-toa,

o em vão, o inútil.

Pertenço de fazer imagens

Opero por semelhanças.

Retiro semelhanças de pessoas

com árvores, de pessoas com rãs,

de pessoas com pedras, etc, etc.

Retiro semelhanças de árvores comigo.

Não tenho habilidade para clarezas.

Preciso de obter sabedoria vegetal.

E quando esteja apropriado para pedra,

Terei também sabedoria mineral.


(MANOEL DE BARROS)

ROBERT FROST

Quis, de fato, que o pássaro voasse

E próximo ao meu lar não mais cantasse.

Cheguei à porta para afugentá-lo

Por sentir-me incapaz de suportá-lo.

Penso que a inteira culpa fosse minha,

E não do pássaro ou da voz que tinha.

O erro estava, decerto, na aflição

De querer silenciar uma canção.



(ROBERT FROST)

ADÉLIA PRADO

Os diamantes são indestrutíves?

Mais é meu amor.

O mar é imenso.

Meu amor é maior,

mais belo sem ornamentos

do que um campo de flores.

Mais triste do que a morte,

mais desesperançado do que a onda

batendo no rochedo,

Mais tenaz que o rochedo.

Ama e nem sabe mais

o que ama.


(ADÉLIA PRADO)

MÁRIO BENEDETTI

Este arroio não volta,

não se detém nunca.

Mas enquanto segue

lentamente fabula.

(...) E se não volta

é porque sonha onde vai:

desaguar num rio

e com ele no mar.



(MÁRIO BENEDETTI)

WILLIAM BLAKE

Deixa que o vento do oeste

Adormeça sobre o lago

Fala em silêncio com os teus

Luminosos olhos

Banha de prata o crepúsculo

E de repente

Te retiras enquanto enfurece

O lobo

E o leão, o escuro bosque

espreita.


(BLAKE)

VINÍCIUS DE MORAES

A vida do poeta

tem um ritmo diferente.

E a sua alma é uma percela

do infinito distante.

Ele é o eterno errante

dos caminhos.

Que vai pisando a terra

e olhando o céu...


(VINÍCIUS DE MORAES)

CAMÕES

Quem pode ser no mundo tão quieto

ou quem terá tão livre o pensamento,

quem tão experimentado, ou tão discreto,

tão fora enfim de humano entendimento que,

ou com público efeito ou com secreto,

lhe não revolva e espante o sentimento,

deixando-lhe o juízo quase incerto,

ver e notar do mundo o desconcerto?


(CAMÕES)

SUGESTÃO

Sêde assim - qualquer coisa

serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre, sem pergunta.

Onda que se esforça, por exercício desinteressado.

Também como esse ar da noite:

Sussurrante de silêncios, cheios de nascimentos

e pétalas. Igual à pedra detida,

sustentando seu demorado destino.

E à nuvem, leve e bela,

vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,

ao camelo que mastiga sua longa solidão,

ao boi que vai com inocência para a morte.

Sêde assim qualquer coisa

serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.


(CECÍLIA MEIRELES)

SINTOMAS DE AMOR

O amor é uma universal cefaléia,
Brilhante mácula que a visão enleia
Obscurecendo a razão.
Sintomas de amor verdadeiro
São a magreza, o ciúme,
Lânguidas alvoradas;
São presságios e pesadelos –
À escuta de um toque,
Aguardando um sinal:
Um roçar dos dedos dela
Num quarto às escuras,
Um olhar penetrante.
Tem coragem, amante!
Aguentarias tal aflição
A outras mãos que não as dela?


( ROBERT GRAVES )

GLACKENS

JOAQUIM SOROLLA

BOUGUEREAU