WATLER CRANE

JEAN LEON GEROME

JEAN LEON GEROME

LIVROS RELEVANTES

  • A. Soljenish: Pavilhão de Cancerosos
  • Baltasar Gracián: Arte da Prudência
  • Charles Baudelaire: Flores do Mal
  • Emile Zola: Germinal
  • Erich Fromm: Medo à Liberdade
  • Fernando Pessoa: O Livro do Desassossego
  • Fiódor Dostoiévski: O Eterno Marido
  • Franz Kafka: O Processo
  • Friedrich Nietzsche: Assim Falou Zaratustra
  • Friedrich Nietzsche: Humano, demasiado humano
  • Fritjof Capra: O Ponto de Mutação
  • Goethe: Fausto
  • Goethe: Máximas e Reflexões
  • Jean Baudrillard: Cool Memories III
  • John Milton: Paraíso Perdido
  • Júlio Cortázar: O Jogo da Amarelinha
  • Luís Vaz de Camões: Sonetos
  • Mario Quintana: Poesia Completa
  • Michele Perrot: As Mulheres e os Silêncios da História
  • Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha
  • Philip Roth: O Anjo Agonizante
  • Platão: O Banquete
  • Robert Greene: As 48 Leis do Poder
  • Salman Rushdie: O Chão que ela pisa
  • Schopenhauer: O Mundo como Vontade e Representação
  • Stendhal: Do Amor
  • Sun Tsu: A Arte da Guerra
  • William Faulkner: Luz em Agosto
  • William Shakespeare: Hamlet

EDVARD MUNCH

JEAN PERRAULT

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

DÁ-ME A FESTA MÁGICA

DEUS - e de onde é que tiras para acender o céu
este maravilhoso entardecer de cobre?
Por ele soube encontrar de novo a alegria,
e a má visão eu soube torná-la mais nobre.

Nas chamas coloridas de amarelo e verde
iluminou-se a lâmpada de um outro sol
que fez rachar azuis as planícies do Oeste
e verteu nas montanhas suas fontes e rios.

Deus, dá-me a festa mágica na minha vida,
dá-me os teus fogos para iluminar a terra,
deixa em meu coração tua lâmpada acendida
para que eu seja o óleo de tua luz suprema.

E eu irei pelos campos na noite estrelada
com os braços abertos e a face desnuda,
cantando árias ingênuas com as mesmas palavras
com que na noite falam os campos e a lua.

( Pablo Neruda )

CARTAS AO EU IV

Meu caro eu,
Por onde anda tua poesia neste fim de tarde de um domingo,
no secreto limo deste ar molhado? Pensas em famílias
recolhidas em adesão tácita, sentes o tempo gotejando horas...
tu não querias ser este ninho sem pássaro.
Desfias a memória de tudo que corre em ti, e te calas,
dói-te saber que algum descuido, um sortilégio já inalcançável,
talvez tenham te feito assim.
São tantas as saídas, tenta-te a roda do mundo :
buscar um ópio, abrir o mágico, cantar um fado...
tecer, tecer a exaustiva, sacralizada inutilidade dos versos...
Mas nada hoje te conforma, teu lirismo não sacia os recônditos,
ávidos lábios.
Há neste final de tarde prenúncios de um túnel de longa noite
onde te desertes , um nilismo em sutil camuflagem, um ainda aguardar,
aguardar ... esperar (vaidade suprema) de teus úmidos,
teimosos versos a eternidade.

(Fernando Campanella)

AO ENCONTRO DO INFINITO

Tu me dizes:
- Vou ao encontro do Infinito,
Em busca de um sonho melhor,
Vôo sem rumo certo,
Não quero ninguém por perto
Só eu e a minha dor.

Mas te digo:
- O Infinito é aqui, amor meu!!

É o sabor dos teus beijos,
Doce mel que me vicia.

É o calor do teu corpo,
Chama que não sacia.

É o toque das tuas mãos,
Brandura que acaricia.

É a força de teus braços,
Vigor, que a mim protegia.

É o aconchego do teu colo,
Que há pouco me acolhia.

É o cheiro da tua pele,
Aroma fascinante que iludia.

É a constância do teu sexo,
Puro êxtase que explodia.

Enfim, é o amor que sentimos,
Nem triste...nem só alegria.

Rita de Cássia

ÂNSIA

Não me deixem tranqüilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma

As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos tivéssemos trocado
para morrer vivendo


(MIA COUTO)

DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora
de desalento...de desencanto...
feche o livro se por agora
não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
tristeza esparsa...remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente
cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
assim dos lábios a vida corre,
deixando um acre sabor na boca.

- eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira

ATITUDE

Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.


O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.


Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.


E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.

(Cecilia Meireles)

CANÇÃO DO AMOR IMPREVISTO

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E minha poesia é um vicio triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.
Mas tu apareceste com tua boca fresca de madrugada,
Com teu passo leve,
Com esses teus cabelos...
E o homem taciturno ficou imóvel,
sem compreender nada,
numa alegria atônita...
A súbita alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos!

Mário Quintana

PALAVRAS

Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

(Sylvia Plath)

MAU DESPERTAR

Saio do sono como
de uma batalha
travada em
lugar algum

Não sei na madrugada
se estou ferido
se o corpo
tenho
riscado
de hematomas

Zonzo lavo
na pia
os olhos donde
ainda escorre
uns restos de treva.

(Ferreira Gullar)

CANTIGA DE ENGANAR

O mundo não vale o mundo,
meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
O mundo,
meu bem,
não vale
a pena, e a face serena
vale a face torturada.
Há muito aprendi a rir,
de quê? de mim? ou de nada?
O mundo, valer não vale.
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos um certo intante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Talvez nem seja talvez.
O mundo não vale a pena.

(DRUMMOND)

SONETO 30

Quando à corte silente do pensar
Eu convoco as lembranças do passado,
Suspiro pelo que ontem fui buscar,
Chorando o tempo já desperdiçado,

Afogo olhar em lágrima, tão rara,
Por amigos que a morte anoiteceu;
Pranteio dor que o amor já superara,
Deplorando o que desapareceu.

Posso então lastimar o erro esquecido,
E de tais penas recontar as sagas,
Chorando o já chorado e já sofrido,

Tornando a pagar contas todas pagas.
Mas, amiga, se em ti penso um momento,
Vão-se as perdas e acaba o sofrimento.

(SHAKESPEARE)

ALMA PERDIDA

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
D“alguém que quis amar e nunca amou!

Toda à noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh“alma
Que chorasse perdida em tua voz!...

[Florbela Espanca]

APRENDIZ

E agora vamos costurando nossos jogos de bem-me-quer,
não-me-quer , fase em que nos alinhavamos no infecundo
círculo da incerteza emocional... perigamos aqui mergulhar
num abismo sem fim, sem pausa para retomarmos nosso próprio ar,
para inspirarmos, eu sem você, você sem mim, as isentas,
vitais alegrias que eclodem à luz do dia.
(Ah, angústia de amor jamais suprido, mar
de vai-e-vens descomunais) ...mas o aprendizado da alma
é bem assim, dizem os doutos sábios, mergulhar, mergulhar,
e subir. Então sou aprendiz de mim.


(F.Campanella)

VAGABUNDOS DE SONHOS

O sonho é a imortalidade , para deixar em memória o nosso desejo

Vagabundos por
subúrbios de estrelas
Em tais recantos de rosas
Adornadas em lágrimas
Ao sabor da emoção
Enraizadas na comução
Enquanto navegam
Por mundos de imortais
Nas juras de sangue
E na perdição de cada amor

Obreiros de obras primas
Resguardados no prazer
De tantos sonhos a desfolhar
Em eterna renascença
Do sentido madrugado
Na calma de cada silêncio
E expressões ditadas
Pela a grandeza da paixão

Velejam por terna loucura
Por entre livre desejo
Pelo o manifesto de seu coração
Cantarolando a mortais
Descobertas de sonhos
No murmúrio do encanto
Aquém do alcance
De presentes sentidos
Na forma de uma mortalidade surda

De quem jamais saberá
O sonho de cada estrela
De noites de obreiros
De sonhos aveludados
Na ternura de cada desejo
Mergulhado no fogo
Da loucura da paixão

Por José Araújo

WALT WHITMAN

A pé e de coração leve
eu enveredo pela estrada aberta,
saudável, livre, o mundo à minha frente,
à minha frente o longo atalho pardo
levando-me aonde eu queira.

Daqui em diante não peço mais boa-sorte,
boa-sorte sou eu.
Daqui em diante não lamento mais,
não transfiro, não careço de nada;
nada de queixas atrás das portas,
de bibliotecas, de tristonhas críticas;
forte e contente vou eu
pela estrada aberta.

A terra é quanto basta:
eu não quero as constelações mais perto
nem um pouquinho, sei que se acham muito bem
onde se acham, sei que são suficientes
para os que estão em relação com elas.

(Carrego ainda aqui
os meus antigos fardos de delícias,
carrego — mulheres e homens —
carrego-os comigo por onde eu vou,
confesso que é impossível para mim
ficar sem eles: deles estou recheado
e em troca eu os recheio.)


WALT WHITMAN

VINÍCIUS E TOQUINHO

Ai, quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto simples e sem fim
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim

Ai, quem me dera ver morrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor.
Ai, quem me dera uma manhã feliz.
Ai, quem me dera uma estação de amor

Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem ser casais

Ai, quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim

Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E, finda a espera, ouvir na primavera
Alguém chamar por mim.

Vinícius e Toquinho

ALBERTO CAEIRO

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,

Porque Deus quis que o não conhecêssemos,

Por isso se nos não mostrou...

Sejamos simples e calmos,

Como os regatos e as árvores,

E Deus amar-nos-á fazendo de nós

Nós, como as árvores são árvores

E como os regatos são regatos,

E dar-nos-á verdor na sua primavera

E um rio aonde ir ter quando acabemos...

E não nos dará mais nada, porque

Dar-nos mais seria tirar-nos mais.


(ALBERTO CAEIRO)

CACASO

MAR E AMOR

Amor Amor
Quando o mar
Quando o mar tem mais segredo
Não é quando ele se agita
Não é quando é tempestade
Nem é quando é ventania
Quando o amor tem mais segredo
É quando é calmaria

Quando o amor
Quando o amor tem mais perigo
Não é quando ele se arrisca
Não é quando ele se ausenta
Nem quando eu me desespero
Quando o amor tem mais perigo
É quando ele é mais sincero.

(CACASO)

GLACKENS

JOAQUIM SOROLLA

BOUGUEREAU