RENÚNCIA
Chora de manso e no íntimo... Procura
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.
Só a dor enobrece e é grande e é pura.
Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...
A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
Sem um grito sequer, tua desgraça.
Encerra em ti tua tristeza inteira.
E pede humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...
MANUEL BANDEIRA
LIVROS RELEVANTES
- A. Soljenish: Pavilhão de Cancerosos
- Baltasar Gracián: Arte da Prudência
- Charles Baudelaire: Flores do Mal
- Emile Zola: Germinal
- Erich Fromm: Medo à Liberdade
- Fernando Pessoa: O Livro do Desassossego
- Fiódor Dostoiévski: O Eterno Marido
- Franz Kafka: O Processo
- Friedrich Nietzsche: Assim Falou Zaratustra
- Friedrich Nietzsche: Humano, demasiado humano
- Fritjof Capra: O Ponto de Mutação
- Goethe: Fausto
- Goethe: Máximas e Reflexões
- Jean Baudrillard: Cool Memories III
- John Milton: Paraíso Perdido
- Júlio Cortázar: O Jogo da Amarelinha
- Luís Vaz de Camões: Sonetos
- Mario Quintana: Poesia Completa
- Michele Perrot: As Mulheres e os Silêncios da História
- Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha
- Philip Roth: O Anjo Agonizante
- Platão: O Banquete
- Robert Greene: As 48 Leis do Poder
- Salman Rushdie: O Chão que ela pisa
- Schopenhauer: O Mundo como Vontade e Representação
- Stendhal: Do Amor
- Sun Tsu: A Arte da Guerra
- William Faulkner: Luz em Agosto
- William Shakespeare: Hamlet
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
CECÍLIA MEIRELLES
Somos uma difícil unidade
De muitos instantes mínimos
- isso seria eu.
Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
Aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente
- Como me poderão encontrar?
Novos e antigos todos os dias,
Transparentes e opacos, segundo o giro da luz
- nós mesmos nos procuramos.
E por entre as circunstâncias fluímos,
Leves e livres como a cascata pelas pedras.
- Que metal nos poderia prender?
(CECILIA MEIRELES)
De muitos instantes mínimos
- isso seria eu.
Mil fragmentos somos, em jogo misterioso,
Aproximamo-nos e afastamo-nos, eternamente
- Como me poderão encontrar?
Novos e antigos todos os dias,
Transparentes e opacos, segundo o giro da luz
- nós mesmos nos procuramos.
E por entre as circunstâncias fluímos,
Leves e livres como a cascata pelas pedras.
- Que metal nos poderia prender?
(CECILIA MEIRELES)
FLORBELA ESPANCA
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
FABRÍCIO CARPINEJAR
Uma mulher é porta onde se via parede,
É vidro onde se via espelho.
Assemelha-se a um livro líquido.
Não há como emprestar ou guardar.
As páginas mudam de repente sua numeração.
Não há como fixá-las e marcar parágrafos.
É para ler tudo no momento,
Pois amanhã será outro livro e autora.
Não se lê a água, a água escreverá sobre as mãos.
A corrente fria e a quente se alternam,
As estações se provocam e se completam.
(FABRÍCIO CARPINEJAR)
É vidro onde se via espelho.
Assemelha-se a um livro líquido.
Não há como emprestar ou guardar.
As páginas mudam de repente sua numeração.
Não há como fixá-las e marcar parágrafos.
É para ler tudo no momento,
Pois amanhã será outro livro e autora.
Não se lê a água, a água escreverá sobre as mãos.
A corrente fria e a quente se alternam,
As estações se provocam e se completam.
(FABRÍCIO CARPINEJAR)
TEU AMOR - DRUMMOND
Teu amor entrou na minha vida
Violentamente,
Como um sopro de vento
Abrindo a janela de repente.
Teu amor desarrumou meu destino
Arrancou da parede
Velhos retratos queridos,
E quebrou uma jarra
No canto da minha alma
Cheia de rosas,
Cheia de sonhos…
Depois…
Teu amor saiu da minha vida de repente
Como um sopro de vento
Fechando uma porta,
Violentamente
DRUMMOND
Violentamente,
Como um sopro de vento
Abrindo a janela de repente.
Teu amor desarrumou meu destino
Arrancou da parede
Velhos retratos queridos,
E quebrou uma jarra
No canto da minha alma
Cheia de rosas,
Cheia de sonhos…
Depois…
Teu amor saiu da minha vida de repente
Como um sopro de vento
Fechando uma porta,
Violentamente
DRUMMOND
HILDA HILST
Carrega-me contigo, Pássaro-Poesia
Quando cruzares o Amanhã, a luz, o impossível
Porque de barro e palha tem sido esta viagem
Que faço a sós comigo. Isenta de traçado
Ou de complicada geografia, sem nenhuma bagagem
Hei de levar apenas a vertigem e a fé:
Para teu corpo de luz, dois fardos breves.
Deixarei palavras e cantigas. E movediças
Embaçadas vias de Ilusão.
Não cantei cotidianos. Só te cantei a ti
Pássaro-Poesia
E a paisagem limite: o fosso, o extremo
A convulsão do Homem.
Carrega-me contigo.
No Amanhã.
(HILDA HILST)
Quando cruzares o Amanhã, a luz, o impossível
Porque de barro e palha tem sido esta viagem
Que faço a sós comigo. Isenta de traçado
Ou de complicada geografia, sem nenhuma bagagem
Hei de levar apenas a vertigem e a fé:
Para teu corpo de luz, dois fardos breves.
Deixarei palavras e cantigas. E movediças
Embaçadas vias de Ilusão.
Não cantei cotidianos. Só te cantei a ti
Pássaro-Poesia
E a paisagem limite: o fosso, o extremo
A convulsão do Homem.
Carrega-me contigo.
No Amanhã.
(HILDA HILST)
ROBERT FROST
A ESTRADA NÃO TRILHADA
Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia...
Porém tomei o outro, igualmente viável,
e tendo mesmo um atrativo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quando a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.
E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.
Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque - e eu
segui pela que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.
(Robert Frost)
Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longe declive
no qual, dobrando, desaparecia...
Porém tomei o outro, igualmente viável,
e tendo mesmo um atrativo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quando a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.
E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
duvidei se algum dia eu voltaria.
Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque - e eu
segui pela que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.
(Robert Frost)
DANTE MILANO
Como num louco mar, tudo naufraga.
A luz do mundo é como a de um farol
Na névoa. E a vida assim é coisa vaga.
O tempo se desfaz em cinza fria,
E da ampulheta milenar do sol
Escorre em poeira a luz de mais um dia.
Cego, surdo, mortal encantamento.
A luz do mundo é como a de um farol...
Oh, paisagem do imenso esquecimento.
DANTE MILANO
A luz do mundo é como a de um farol
Na névoa. E a vida assim é coisa vaga.
O tempo se desfaz em cinza fria,
E da ampulheta milenar do sol
Escorre em poeira a luz de mais um dia.
Cego, surdo, mortal encantamento.
A luz do mundo é como a de um farol...
Oh, paisagem do imenso esquecimento.
DANTE MILANO
TAGORE
Luz, minha luz, a luz que enche o
mundo, a luz que beija o olhar, a
luz que abranda o coração!
Ah! a luz dança, meu amado, no centro
da minha vida; a luz meu amado, tange
as cordas do meu amor; abre-se o céu,
precipita-se o vento, percorre a
terra numa risada.
As borboletas abrem as suas velas no
oceano da luz.
Lírios e jasmins desabotoam nas cristas
das ondas da luz
Em cada nuvem, meu amado, a luz
esmigalha-se em ouro, e despeja uma
profusão de pedrarias.
De folha em folha, meu amado,
esparrama-se a alegria e um
destemido prazer. À caudal do
céu inundou as suas margens, e
saltou a onda da felicidade.
(Tagore)
mundo, a luz que beija o olhar, a
luz que abranda o coração!
Ah! a luz dança, meu amado, no centro
da minha vida; a luz meu amado, tange
as cordas do meu amor; abre-se o céu,
precipita-se o vento, percorre a
terra numa risada.
As borboletas abrem as suas velas no
oceano da luz.
Lírios e jasmins desabotoam nas cristas
das ondas da luz
Em cada nuvem, meu amado, a luz
esmigalha-se em ouro, e despeja uma
profusão de pedrarias.
De folha em folha, meu amado,
esparrama-se a alegria e um
destemido prazer. À caudal do
céu inundou as suas margens, e
saltou a onda da felicidade.
(Tagore)
Assinar:
Postagens (Atom)