Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
MIGUEL TORGA
LIVROS RELEVANTES
- A. Soljenish: Pavilhão de Cancerosos
- Baltasar Gracián: Arte da Prudência
- Charles Baudelaire: Flores do Mal
- Emile Zola: Germinal
- Erich Fromm: Medo à Liberdade
- Fernando Pessoa: O Livro do Desassossego
- Fiódor Dostoiévski: O Eterno Marido
- Franz Kafka: O Processo
- Friedrich Nietzsche: Assim Falou Zaratustra
- Friedrich Nietzsche: Humano, demasiado humano
- Fritjof Capra: O Ponto de Mutação
- Goethe: Fausto
- Goethe: Máximas e Reflexões
- Jean Baudrillard: Cool Memories III
- John Milton: Paraíso Perdido
- Júlio Cortázar: O Jogo da Amarelinha
- Luís Vaz de Camões: Sonetos
- Mario Quintana: Poesia Completa
- Michele Perrot: As Mulheres e os Silêncios da História
- Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha
- Philip Roth: O Anjo Agonizante
- Platão: O Banquete
- Robert Greene: As 48 Leis do Poder
- Salman Rushdie: O Chão que ela pisa
- Schopenhauer: O Mundo como Vontade e Representação
- Stendhal: Do Amor
- Sun Tsu: A Arte da Guerra
- William Faulkner: Luz em Agosto
- William Shakespeare: Hamlet
sexta-feira, 20 de junho de 2008
RILKE
Senhor, já é tempo:
Foi tão longo o verão.
Estende as Tuas sombras
Sobre as horas solares
E solta os ventos
Sobre os campos.
Ordena aos últimos frutos
Que se completem.
(RAINER MARIA RILKE)
Foi tão longo o verão.
Estende as Tuas sombras
Sobre as horas solares
E solta os ventos
Sobre os campos.
Ordena aos últimos frutos
Que se completem.
(RAINER MARIA RILKE)
DANTE
Não convém apressar juízos.
Imita o caminhante cauteloso
Que nem sim nem não
Responde pressuroso.
Revela-se o mais tolo
Entre os tolos aquele
Que sem meditação
Afirma ou nega.
A pressa é causa
De que muitas vezes
A opinião geral
Conclua erradamente,
Havendo a paixão tomado o lugar
Do raciocínio.
Com maior dano volta
Da procura da verdade
Aquele que não se preparou
Para encontrá-la.
DANTE
Imita o caminhante cauteloso
Que nem sim nem não
Responde pressuroso.
Revela-se o mais tolo
Entre os tolos aquele
Que sem meditação
Afirma ou nega.
A pressa é causa
De que muitas vezes
A opinião geral
Conclua erradamente,
Havendo a paixão tomado o lugar
Do raciocínio.
Com maior dano volta
Da procura da verdade
Aquele que não se preparou
Para encontrá-la.
DANTE
MÁRIO DE ANDRADE
"O Sol no poente, de novo auroral e nativo,
Fazia em caminho contrário um dia novo;
E as noires ficaram luminosamente diurnas,
E os dias massacrados se esconderam
No covão de uma noite sem fim."
" A febre tem um vigor
Suave de tristeza,
E os símbolos da tarde
Comparecem entre nós;
Não é preciso nem perdoar
Nem esquecer os crimes
Pra que venha este bem
De sossegar na pouca luz."
MÁRIO DE ANDRADE
Fazia em caminho contrário um dia novo;
E as noires ficaram luminosamente diurnas,
E os dias massacrados se esconderam
No covão de uma noite sem fim."
" A febre tem um vigor
Suave de tristeza,
E os símbolos da tarde
Comparecem entre nós;
Não é preciso nem perdoar
Nem esquecer os crimes
Pra que venha este bem
De sossegar na pouca luz."
MÁRIO DE ANDRADE
FERNANDO PESSOA
Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?
Haverá rasgões no espaço
Que dêem para outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
FERNANDO PESSOA
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?
Haverá rasgões no espaço
Que dêem para outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
FERNANDO PESSOA
FERNANDO PESSOA
Que costa é que as ondas contam
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?
Haverá rasgões no espaço
Que dêem para outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
FERNANDO PESSOA
E se não pode encontrar
Por mais naus que haja no mar?
O que é que as ondas encontram
E nunca se vê surgindo?
Este som de o mar praiar
Onde é que está existindo?
Ilha próxima e remota,
Que nos ouvidos persiste,
Para a vista não existe.
Que nau, que armada, que frota
Pode encontrar o caminho
À praia onde o mar insiste,
Se à vista o mar é sozinho?
Haverá rasgões no espaço
Que dêem para outro lado,
E que, um deles encontrado,
Aqui, onde há só sargaço,
Surja uma ilha velada,
O país afortunado
Que guarda o Rei desterrado
Em sua vida encantada?
FERNANDO PESSOA
OCTAVIO PAZ
RENDIÇÃO
Depois de ter cortado todos os braços que se estendiam
para mim; depois de ter entaipado todas as janelas e todas
as portas; depois de ter inundado os fossos com água
envenenada; depois de ter edificado minha casa num rochedo
inacessível aos afagos e ao medo; depois de ter lançado
punhados de silêncio e monossílabos de desprezo a meus
amores; depois de ter esquecido meu nome e o nome da
minha terra natal; depois de me ter condenado a perpétua
espera e a solidão perpétua, ouvi contra as pedras de meu
calabouço de silogismos a investida húmida, terna, insistente,
da Primavera.
Octávio Paz
Depois de ter cortado todos os braços que se estendiam
para mim; depois de ter entaipado todas as janelas e todas
as portas; depois de ter inundado os fossos com água
envenenada; depois de ter edificado minha casa num rochedo
inacessível aos afagos e ao medo; depois de ter lançado
punhados de silêncio e monossílabos de desprezo a meus
amores; depois de ter esquecido meu nome e o nome da
minha terra natal; depois de me ter condenado a perpétua
espera e a solidão perpétua, ouvi contra as pedras de meu
calabouço de silogismos a investida húmida, terna, insistente,
da Primavera.
Octávio Paz
ODISSEUS
JÁ NÃO CONHEÇO A NOITE
Já não conheço a noite, terrível anonimato da morte
No porto da minha alma ancora uma frota de astros.
Estrela da tarde, sentinela a refulgir na brisa
Celeste de uma ilha que me sonha
A proclamar de seus altos rochedos a alvorada
Meus dois olhos num abraço te acolhem com o astro
Do meu vero coração: Já não conheço a noite.
Já não conheço os nomes de um mundo que me nega
Leio as conchas, as folhas, os astros com clareza
Meu ódio é supérfluo nos caminhos do céu
A menos seja o sonho vendo-me cruzar de novo
Com lágrimas o mar da imortalidade.
Estrela do mar, sob o arco dourado de teus fogos
Já não conheço a noite que é só noite.
( ODISSEUS ELYTIS )
Já não conheço a noite, terrível anonimato da morte
No porto da minha alma ancora uma frota de astros.
Estrela da tarde, sentinela a refulgir na brisa
Celeste de uma ilha que me sonha
A proclamar de seus altos rochedos a alvorada
Meus dois olhos num abraço te acolhem com o astro
Do meu vero coração: Já não conheço a noite.
Já não conheço os nomes de um mundo que me nega
Leio as conchas, as folhas, os astros com clareza
Meu ódio é supérfluo nos caminhos do céu
A menos seja o sonho vendo-me cruzar de novo
Com lágrimas o mar da imortalidade.
Estrela do mar, sob o arco dourado de teus fogos
Já não conheço a noite que é só noite.
( ODISSEUS ELYTIS )
JOSÉ SARAMAGO
Eu luminoso não sou.
Nem sei que haja
Um poço mais remoto,
e habitado
De cegas criaturas,
de histórias e assombros.
Se, no fundo poço,
que é o mundo
Secreto e intratável
das águas interiores,
Uma roda de céu
ondulando se alarga,
Digamos que é o mar:
como o rápido canto
Ou apenas o eco,
desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas.
O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água
dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar,
as aves se recolhem.
JOSÉ SARAMAGO
Nem sei que haja
Um poço mais remoto,
e habitado
De cegas criaturas,
de histórias e assombros.
Se, no fundo poço,
que é o mundo
Secreto e intratável
das águas interiores,
Uma roda de céu
ondulando se alarga,
Digamos que é o mar:
como o rápido canto
Ou apenas o eco,
desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas.
O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água
dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar,
as aves se recolhem.
JOSÉ SARAMAGO
HERBERTO HELDER
Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
HERBERTO HELDER
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
HERBERTO HELDER
A.ESTEBANEZ
Há um corvo sobre o mundo
há o corpo de um moribundo
e um contra-senso profundo
nesse aquém de além do mar...
Há os pulmões sem o fôlego
os tropeços sem os trôpegos
há os atropelos sem tráfego
e um passado ainda a passar...
Há veredas de luz na direção da lua sobre o mar
a ponte movediça e esse final de rua nua de luar
e os desesperados de amor cansados de esperar...
Há a sombra do horizonte
as paixões de Anacreonte
há os sonhos dos amantes
e há corpos para enterrar...
E há um pássaro noturno
que não têm onde pousar...
A. ESTEBANEZ
há o corpo de um moribundo
e um contra-senso profundo
nesse aquém de além do mar...
Há os pulmões sem o fôlego
os tropeços sem os trôpegos
há os atropelos sem tráfego
e um passado ainda a passar...
Há veredas de luz na direção da lua sobre o mar
a ponte movediça e esse final de rua nua de luar
e os desesperados de amor cansados de esperar...
Há a sombra do horizonte
as paixões de Anacreonte
há os sonhos dos amantes
e há corpos para enterrar...
E há um pássaro noturno
que não têm onde pousar...
A. ESTEBANEZ
ANTERO DE QUENTAL
Junto do mar, que erguia gravemente
À trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o vôo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
ANTERO DE QUENTAL
À trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o vôo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...
Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais?
Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...
ANTERO DE QUENTAL
ALEXANDRE O'NEILL
Tempo das cerejeiras agressivas
A avançar pelo meu quarto dentro.
Velho tempo das noites explosivas
Em que o sangue crescia como o vento!
Tempo - aproximação das coisas vivas,
Do seu hálito doce, violento.
Tempo - horas e horas convertidas
No outro raro e inútil dum lamento...
Tempo como uma ferida no meu lado,
Coração palpitando sobre a lama.
Tempo perdido, sangue derramado,
Resto de amor que se deixou na cama,
Horizonte de guerra atravessado
Pelo corpo audacioso de uma chama.
O'Neill, Alexandre, No Reino da Dinamarca
A avançar pelo meu quarto dentro.
Velho tempo das noites explosivas
Em que o sangue crescia como o vento!
Tempo - aproximação das coisas vivas,
Do seu hálito doce, violento.
Tempo - horas e horas convertidas
No outro raro e inútil dum lamento...
Tempo como uma ferida no meu lado,
Coração palpitando sobre a lama.
Tempo perdido, sangue derramado,
Resto de amor que se deixou na cama,
Horizonte de guerra atravessado
Pelo corpo audacioso de uma chama.
O'Neill, Alexandre, No Reino da Dinamarca
MIGUEL TORGA
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor
Miguel Torga
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor
Miguel Torga
BAUDELAIRE
Nos porões de tristeza impenetrável
Onde o Destino um dia me esqueceu;
Onde jamais um róseo raio ardeu,
Só com a noite, hospedeira intratável,
Sou qual pintor que um Deus, por diversão,
Na treva faz mover os seus pincéis,
Ou cozinheiro de apetites cruéis
Que assa e devora o próprio coração.
Súbito brilha e faz-se ali presente
Fantasma esplêndido e de graça extrema
Em oriental postura evanescente.
Ao atingir a perfeição suprema,
Nela percebo a bela visitante:
Ei-la! Negra e contudo fulgurante
CHARLES BAUDELAIRE
Onde o Destino um dia me esqueceu;
Onde jamais um róseo raio ardeu,
Só com a noite, hospedeira intratável,
Sou qual pintor que um Deus, por diversão,
Na treva faz mover os seus pincéis,
Ou cozinheiro de apetites cruéis
Que assa e devora o próprio coração.
Súbito brilha e faz-se ali presente
Fantasma esplêndido e de graça extrema
Em oriental postura evanescente.
Ao atingir a perfeição suprema,
Nela percebo a bela visitante:
Ei-la! Negra e contudo fulgurante
CHARLES BAUDELAIRE
EUGÊNIO DE ANDRADE
O SILÊNCIO
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas.
EUGÊNIO DE ANDRADE
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas.
EUGÊNIO DE ANDRADE
QUINTANA
RECORDO AINDA
Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...
Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...
(MARIO QUINTANA)
Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...
Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...
(MARIO QUINTANA)
NATHAN DE CASTRO
Cachoeiras
Nas águas represadas dos meus rios
morreram cachoeiras de poemas.
Os peixes já não brincam piracemas,
perderam-se nos veios mais sombrios.
As margens dos salgueiros imponentes
o tempo desmatou, deixando estragos,
pastagens e erosões. Onde os meus lagos
formados pelas águas das enchentes?
Restaram-me os espaços-passarinhos
de rabiscar palavras carpideiras
e um charco assoreado de aquarelas.
Mistérios dessas noites de chorinhos,
limo no peito e a dor de cachoeiras.
Saudades de acordar pingando estrelas!
( Nathan de Castro )
Nas águas represadas dos meus rios
morreram cachoeiras de poemas.
Os peixes já não brincam piracemas,
perderam-se nos veios mais sombrios.
As margens dos salgueiros imponentes
o tempo desmatou, deixando estragos,
pastagens e erosões. Onde os meus lagos
formados pelas águas das enchentes?
Restaram-me os espaços-passarinhos
de rabiscar palavras carpideiras
e um charco assoreado de aquarelas.
Mistérios dessas noites de chorinhos,
limo no peito e a dor de cachoeiras.
Saudades de acordar pingando estrelas!
( Nathan de Castro )
HERBERTO HELDER
Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Ó cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.
(...)
(HERBERTO HELDER)
E enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Ó cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.
(...)
(HERBERTO HELDER)
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