WATLER CRANE

JEAN LEON GEROME

JEAN LEON GEROME

LIVROS RELEVANTES

  • A. Soljenish: Pavilhão de Cancerosos
  • Baltasar Gracián: Arte da Prudência
  • Charles Baudelaire: Flores do Mal
  • Emile Zola: Germinal
  • Erich Fromm: Medo à Liberdade
  • Fernando Pessoa: O Livro do Desassossego
  • Fiódor Dostoiévski: O Eterno Marido
  • Franz Kafka: O Processo
  • Friedrich Nietzsche: Assim Falou Zaratustra
  • Friedrich Nietzsche: Humano, demasiado humano
  • Fritjof Capra: O Ponto de Mutação
  • Goethe: Fausto
  • Goethe: Máximas e Reflexões
  • Jean Baudrillard: Cool Memories III
  • John Milton: Paraíso Perdido
  • Júlio Cortázar: O Jogo da Amarelinha
  • Luís Vaz de Camões: Sonetos
  • Mario Quintana: Poesia Completa
  • Michele Perrot: As Mulheres e os Silêncios da História
  • Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha
  • Philip Roth: O Anjo Agonizante
  • Platão: O Banquete
  • Robert Greene: As 48 Leis do Poder
  • Salman Rushdie: O Chão que ela pisa
  • Schopenhauer: O Mundo como Vontade e Representação
  • Stendhal: Do Amor
  • Sun Tsu: A Arte da Guerra
  • William Faulkner: Luz em Agosto
  • William Shakespeare: Hamlet

EDVARD MUNCH

JEAN PERRAULT

sábado, 16 de agosto de 2008

JORGE LUIS BORGES

ENTARDECERES


A clara profusão de um poente
enaltece a rua,
a rua aberta como um vasto sonho
para qualquer acaso.
O límpido arvoredo
perde o último pássaro, o ouro último.
A mão andrajosa de um mendigo
agrava a tristeza dessa tarde.
O silêncio que mora nos espelhos
forçou seu cárcere.
A escuridão é o sangue
das coisas feridas.
No ocaso incerto
a tarde mutilada
foi umas pobres cores.


(Jorge Luis Borges)

FERNANDO PESSOA

Afinal, quem sou eu quando não brinco?

Um pobre órfão abandonado

Nas ruas das sensações, tiritando de frio

Às esquinas da Realidade,

Tendo que dormir nos degraus da Tristeza

E comer o pão dado da Fantasia...



FERNANDO PESSOA

DRUMMOND

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.


DRUMMOND

PAULO LEMINSKY

Voar com a asa ferida?
Abram alas quando eu falo.
Que mais foi que fiz na vida?
Fiz, pequeno, quando o tempo
Estava todo ao meu lado
E o que se chama passado,
Passatempo, pesadelo,
só me existia nos livros.
Fiz, depois, dono de mim,
Quando tive que escolher
Entre um abismo, o começo,
E essa história sem fim.
Asa ferida, asa ferida,
Meu espaço, meu herói.
A asa arde. Voar, isso não dói.


.
Paulo Leminsky

JORGE LUIS BORGES

Nunca haverá uma porta. Estás cá dentro
E a fortaleza abarca o universo
E não possui anverso nem reverso
Nem externo muro nem secreto centro.
Não esperes que o rigor do teu caminho
Que obstinado se bifurca noutro,
Tenha fim. É de ferro o teu destino
Como o juiz. Não esperes a investida
Do touro que é um homem, cuja estranha
Forma plural dá horror à maranha
De interminável pedra entretecida.
Não existe evasão. Nada te espera.
Nem no negro crepúsculo a fera.

Jorge Luis Borges

DRUMMOND

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.


DRUMMOND

CECÍLIA MEIRELLES

É preciso não esquecer nada;

Nem a torneira aberta, nem o fogo aceso,

Nem o sorriso para os infelizes

Nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver

A nova borboleta nem o céu de sempre.

O que é preciso é esqueceer o nosso rosto,

O nosso nome, o som da nossa voz,

O ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer

É o dia carregado de atos,

A idéia de recompensas e de glória.

O que é preciso é ser como se já

Não fôssemos, vigiados pelos próprios olhos

Severos conosco, pois o resto

Não nos pertence.



( CECILIA MEIRELES )

VINÍCIUS DE MORAES

... hei de lançar também

as âncoras ardentes

das promessas...

Mas no meu coração

intranquilo

Não há senão fome e sede

de lembranças inexistentes.




(VINICIUS DE MORAES)

CANÕES

Busque Amor novas artes, novo engenho

Para matar-me, e novas esquivanças,

Que não pode tirar-me as esperanças,

Que mal me tirará o que eu não tenho.



Olhai de que esperanças me mantenho!

Vede que perigosas seguranças!

Que não temo contrastes nem mudanças,

Andando em bravo mar, perdido o lenho.



Mas, enquanto não pode haver desgosto

Onde esperança falta, lá me esconde

Amor um mal, que mata e não se vê,



Que dias há que na alma me tem posto

Um não sei quê, que nasce não sei onde,

Vem não sei como e dói não sei porquê.





Luís Vaz de Camões

Affonso Romano de Sant´Anna

O HOMEM E SUA SOMBRA-1


Era um homem com sombra de cachorro
Que sonhava ter sombra de cavalo
Mas era um homem com sombra de cachorro
E isto de algum modo o incomodava.

Por isto aprisionou-a num canil
E altas horas da noite
Enquanto a sombra lhe ladrava
Sua alma em pelo galopava



Affonso Romano de Sant´Anna

CECÍLIA MEIRELLES

Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar.
Por que havemos de ser unicamente humanos,
limitados em chorar?
Não encontro caminhos
fáceis de andar
Meu rosto vário desorienta as firmes pedras
que não sabem de água e de ar
E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura e encanto indiferente
de herança,em cada lugar.
Rastro de flor e estrela,
nuvem e mar.
Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.



Cecília Meireles

GLACKENS

JOAQUIM SOROLLA

BOUGUEREAU