Não teimes, não insistas, não repitas,
mas vive como quem, teimando, insiste,
e, porque insiste, como que repete.
Esse das sombras o silêncio fluido
escoando-se por ti quando não passas,
parado que ouves, não mais é que o tempo
de hoje em que vives só alheias vidas,
de ti alheadas qual de ti vividas.
Por outro tempo te criaste impuro,
difuso e firme, no clamor de versos
que os tempos de hoje reconstroem como
delidas cartas um fogacho acendem.
Outro que seja, é teu, pois o escutaste
na dor de apenas ser, na dor de ouvir
quão desatentos menos homens são
os homens todos. Teu, sem que teu seja,
que destes e dos outros se fará
serena ciência de possuírem tudo
o que juntares para ser roubado,
quando, parado no silêncio fluido,
se escoava nele o próprio estar na vida,
atento como estavas, poeta como eras
daquele ser não-sendo que eram todos
em ti, dentro de ti, à tua volta.
JORGE DE SENA
LIVROS RELEVANTES
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- Baltasar Gracián: Arte da Prudência
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- Fiódor Dostoiévski: O Eterno Marido
- Franz Kafka: O Processo
- Friedrich Nietzsche: Assim Falou Zaratustra
- Friedrich Nietzsche: Humano, demasiado humano
- Fritjof Capra: O Ponto de Mutação
- Goethe: Fausto
- Goethe: Máximas e Reflexões
- Jean Baudrillard: Cool Memories III
- John Milton: Paraíso Perdido
- Júlio Cortázar: O Jogo da Amarelinha
- Luís Vaz de Camões: Sonetos
- Mario Quintana: Poesia Completa
- Michele Perrot: As Mulheres e os Silêncios da História
- Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha
- Philip Roth: O Anjo Agonizante
- Platão: O Banquete
- Robert Greene: As 48 Leis do Poder
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