WATLER CRANE

JEAN LEON GEROME

JEAN LEON GEROME

LIVROS RELEVANTES

  • A. Soljenish: Pavilhão de Cancerosos
  • Baltasar Gracián: Arte da Prudência
  • Charles Baudelaire: Flores do Mal
  • Emile Zola: Germinal
  • Erich Fromm: Medo à Liberdade
  • Fernando Pessoa: O Livro do Desassossego
  • Fiódor Dostoiévski: O Eterno Marido
  • Franz Kafka: O Processo
  • Friedrich Nietzsche: Assim Falou Zaratustra
  • Friedrich Nietzsche: Humano, demasiado humano
  • Fritjof Capra: O Ponto de Mutação
  • Goethe: Fausto
  • Goethe: Máximas e Reflexões
  • Jean Baudrillard: Cool Memories III
  • John Milton: Paraíso Perdido
  • Júlio Cortázar: O Jogo da Amarelinha
  • Luís Vaz de Camões: Sonetos
  • Mario Quintana: Poesia Completa
  • Michele Perrot: As Mulheres e os Silêncios da História
  • Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha
  • Philip Roth: O Anjo Agonizante
  • Platão: O Banquete
  • Robert Greene: As 48 Leis do Poder
  • Salman Rushdie: O Chão que ela pisa
  • Schopenhauer: O Mundo como Vontade e Representação
  • Stendhal: Do Amor
  • Sun Tsu: A Arte da Guerra
  • William Faulkner: Luz em Agosto
  • William Shakespeare: Hamlet

EDVARD MUNCH

JEAN PERRAULT

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

JORGE LUIS BORGES

Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos

dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte

o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar

uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma

tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em

primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus

olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são

particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama

de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que

seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se

tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus

erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me.

O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta.

A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar

que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança,

que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco

sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo;

que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que

viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez

a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o

esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas

sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses

desígnios, que não nos serão revelados.

Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro,

meu corpo.


JORGE LUIS BORGES

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